Cultura

A prosa curta na aprendizagem e a sua aplicabilidade nos anos finais do ensino fundamental | Adriano B. Espíndola Santos

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RESUMO

 

A linguagem é arcabouço primal da vida em sociedade. Somos e realizamos porque nos comunicamos. Assim, desenvolve-se este artigo com o fito de saber, pela eficácia, se é possível incrementar o ensino da língua a partir de contos e crônicas contemporâneos, tendo os alunos a experiência de contato com o autor. Objetiva-se investigar como a prosa curta está imbricada no ensino e aprendizagem de língua portuguesa e de literatura nos anos finais do Ensino Fundamental; diagnosticar a didática atualmente utilizada no ensino da língua portuguesa por via da literatura; e definir estratégias para o ensino profícuo de literatura e de língua portuguesa, considerando a interação cibernética, para a compreensão global e para o desenvolvimento psicofísico. O trabalho é apoiado por estudos documentais e empíricos, abarcando a experiência em estágio supervisionado, com turmas dos 6º e 8º anos, no Colégio Santo Tomás de Aquino, em Fortaleza, Ceará. A pesquisa se dá de maneira descritiva, e demanda aprofundamento quanto à análise em sala de aula e quanto aos materiais bibliográficos atinentes. Pensa-se que os jovens estarão disponíveis às letras quando comungadas com leituras dinâmicas, amparadas por um autor e pelo professor-mediador, com o uso de jogos ou de material multimídia. Nota-se a possibilidade de se adotar nas escolas a leitura pelo software Kindle, instrumento versátil que permite observações do aluno e do professor. Como no colégio abordado, cabe o ensino apoiado por plataformas digitais, onde o aluno possa buscar os livros de seu interesse e indicados pela escola; e que a leitura se faça guiada pelo professor-mediador, com o suporte de um autor contemporâneo, para mostrar, na prática, o sentido da literatura.  

INTRODUÇÃO

 

O estudo da linguagem, no âmbito escolar, é pressuposto básico para o ensino e a aprendizagem. Mais ainda, a linguagem é primal para quaisquer exercícios da vida em sociedade: não se pode viver sem as teias da comunicação, e isso se estende à capacidade criativa.

 

A escolha do tema tem a ver com a brevidade e a permeabilidade do conteúdo e com a “urgência” pelo conhecimento que os jovens dos anos finais do Ensino Fundamental possuem em usufruir de seu pleno engajamento social, com amparo no direito fundamental à dignidade.

 

Denomina-se, a princípio, prosa curta o texto narrativo enxuto de ficção, especialmente os gêneros conto e crônica, que são, com facilidade, encontrados na internet, muitos de domínio público.

 

Explora-se o que se produz nas conexões virtuais – não de forma exclusiva –, haja vista a presente geração, que iniciou a vida em ambiente tecnológico, ter maior familiaridade, e procurá-lo para o entretenimento e para a aprendizagem. 

 

No primeiro tópico, faz-se a análise desses gêneros textuais, com suas características marcantes, a fim de que haja uma fonte norteadora, ou fundamento para as provocações que são ponderadas ao longo do trabalho. São captadas as evoluções dos gêneros, com importantes contribuições de autores como Rubem Fonseca, Anton Tchekhov e Marina Colasanti, e de novos autores, como Maria Fernanda Elias Maglio e Adriano Espíndola Santos – também autor deste trabalho.

 

No segundo capítulo, apoiando-se em estudo empírico e documental, no Estágio Supervisionado I, que possibilitou a coleta de informações práticas em sala de aula do Colégio Santo Tomás de Aquino, na cidade de Fortaleza, Ceará, realiza-se a comparação com o que se tem assentado em estudos nas áreas educacional e pedagógica, para saber o que move ou que artifícios prendem a atenção dos jovens no contato com a literatura e a língua portuguesa. Almeja-se abordar a disposição da prosa para atender às necessidades de conhecimento de mundo, sobre as esferas social e política, já que a literatura é o caminho que acomoda as inquietações – ou que as promove –, para o bem do aperfeiçoamento humano.  

 

Na etapa final, vê-se como se projetam as enxurradas de informações que são disponibilizadas aos jovens, de que maneira recebem e processam os elementos para a sua formação intelectual, compreendendo que há fake news, conteúdos aleatórios, e outras pretensas ferramentas educacionais. Outro enfoque é saber como o material abordado pode se tornar palpável pelo público juvenil, contando que podem ser dispersos por vários atrativos, os quais redundam na distorção de seu valor educacional ou mesmo bloqueiam as intervenções positivas. Com as experiências colhidas, tem-se a percepção se a prosa curta pode atender aos dilemas de aprendizagem e se se pode aplacar alguma dificuldade com a língua portuguesa, por meio da literatura.

 

Assim o trabalho é moldado: Capítulo I – A prosa curta e as suas malhas (in)definidas; Capítulo II – A literatura e língua portuguesa nos anos finais do Ensino Fundamental; Capítulo III – A capilaridade da prosa curta como meio de consecução do ensino e da aprendizagem de literatura e de língua portuguesa: um estudo empírico e documental. 

 

1 A PROSA CURTA E AS SUAS MALHAS (IN)DEFINIDAS

 

Captam-se os caminhos que a prosa curta tem tomado na história, nos séculos XIX, XX e XXI; são os momentos de maior destaque, em que as obras publicadas ganham expressão de independência: não estão encadeadas numa trama linear, e podem ser lidas em separado, com enredos próprios – como em “Vidas secas”, de Graciliano Ramos (MAGALHÃES e ANDRADE, 2010, p.1).

 

A prosa curta é um fenômeno antigo, que remonta às expressões populares da Idade Média na Europa, como os contos de fadas, oralmente repassados entre as gerações (FALCONI e FARAGO, 2015). A tradição oral acompanha povos de diferentes etnias e lugares, ainda hoje, reforçando a cultura e as raízes.

 

No ocidente, os contos foram compilados e traduzidos por Perault, La Fontaine, e os Irmãos Grimm1, desde o século XVII, ganhando contorno mundial, e servindo de base para a educação das crianças – com premissas sobre como deveriam se portar, numa espécie de iniciação à vida social. No século XVII, os contos de fadas tinham o intuito de conversar com os adultos, e, depois, com as crianças. Os adultos, já familiarizados com as tramas, conferiam a expressividade2.

 

Os ditos contos possuíam o sentido de reforçar a luta pela sobrevivência. Após um dia de labuta, as crianças e os adultos se reuniam para a contação de histórias, que enfatizavam a trajetória de heroísmo, acerca das dificuldades que deviam ser enfrentadas. O resultado do conto era a chave da motivação para continuar a jornada, carreado de emoção, para esvaziar as pressões internas. O conto tem o condão de incitar a imaginação, a busca por melhores dias. Claramente é apoio para o incremento do vocabulário, da expressividade, servindo para as construções sociais, no que diz respeito à moral e às tradições3.

 

A criança tem a oportunidade de encontrar-se com o seu eu, entendendo o seu papel, os valores e as questões sociais e políticas que a cercam. Saberá discernir as imagens que a povoam, como o bem e o mal, o certo e o errado.   

 

Na modernidade, há um nome a se destacar: Anton Pavlovitch Tchekhov, aclamado escritor de contos. Russo, nascido em Taganrog, formou-se em medicina, mas nunca abandonou a escrita, que lhe rendeu a mantença por longos anos. Contemporâneo de nomes como Liev Tosltói e Maksim Gorki, despontou ao receber o prêmio literário Púchkin (TCHÉKHOV, 2019). Nas correspondências recolhidas de Anton Tchekhov, “Sem trama e sem final”, da Editora Martins, nota-se o zelo que o autor tem ao tratar do conto. Tchekhov deixou um acervo magnífico, reverenciado por contribuir com a grandeza efetiva do gênero4.

 

Mesmo tendo falecido cedo, aos quarenta e quatro anos, mobilizou importantes trabalhos, manteve o cuidado com outros escritores, confiando e recebendo conselhos de seu editor, Aleksei Suvórin5. Em “Angústia”, um de seus contos famosos, reforça o sentido da alteridade e a surpresa do encontro com a dor e com o ínfimo. Isso, para o jovem leitor, dá a perceber a fragilidade humana, que concorre com as carências existentes no Brasil, apesar de realidades opostas. Tchekhov (2018) provoca o sentimento aí intitulado; o leitor padece e é apanhado pela empatia. A questão posta é: por que um dos passageiros não ouviu a lamúria do cocheiro? Exprime-se a invisibilidade humana, como ocorre hoje nas grandes capitais, em que pouco se conhece sobre o próximo. 

 

O conto “A dama do cachorrinho”, pelos detalhes, demonstra as intricadas ligações de um relacionamento proibido. O leitor é envolvido pelo cenário e pela disposição dos acontecimentos furtivos, para a composição das imagens. O referido autor traça um novo paradigma para a prosa. Oferece ao leitor o deleite da fausta ambientação, como a dor que acomete o homem e a mulher comum; o sofrimento é intrínseco à natureza humana. Na técnica empregada por Tchekhov, não se escreve à toa, com excessos que complicam a integridade do texto – e a inteireza está no que é eficaz à prosa. Para ele, o conto se baseia na utilidade, para empregar somente o que cabe à essência. Compete ao escritor dar feições a um cenário crível, quase real (SALGUEIRO, 2019, online). 

 

Tchekhov é referência mais que atual. Influenciou a literatura contemporânea, como o escritor brasileiro Rubem Fonseca, que é expoente na crueza e na fantasia, e não dispensa a gravidade das palavras. Em “Feliz ano novo”, desbarata o senso conservador; não compactua com a passividade, com a linearidade, amparado pela penosa realidade. As personagens Zequinha e Pereba espelham o cerne da degradação, que atacam as “coisas postas”, reflexo da desigualdade social tão viva no Rio de Janeiro, onde o conto é ambientado.

 

Ao se falar de Fonseca, é possível aludir a Chklovisk, que revela a potência da poesia pela abundância de conceitos, para conduzir o leitor ao estranhamento6. E é pelo estranhamento que se suplanta a banalidade, o lugar-comum, por isso Fonseca aciona uma série de imagens chocantes, que confluem para profusão de sentidos, dando à obra feição extraordinária7. O conto é uma extensão razoável do insólito, que comunga com a imersão do leitor, para excitar as suas memórias de leitura e social; é o encontro com o imponderável. Quer-se a conexão da ebulição de vida e de conhecimento dos jovens leitores, para, de modo dinâmico e interativo, apresentar-lhes a prosa como veículo catalisador na aprendizagem.

 

Uma autora que está no panteão da literatura infanto-juvenil é Marina Colasanti. Ela consegue trabalhar com temas espinhosos, como em “A moça tecelã”. Questiona a ideia se o casamento seria uma forma de realização para a mulher. Como a moça tecelã alcançava os seus desejos através da tecelagem, poderia fazer tudo que se projetasse, em sua mente, como felicidade. Ao criar o homem, que deveria ser seu par, percebeu que estava sendo usada para os fins dele, pois demandava a construção de bens para a sua satisfação. Por fim, ela desfez o que sobejava, inclusive e principalmente o homem, que lhe trazia angústia. Percebeu que poderia ter uma vida simples, ao lado da natureza, com a verdadeira paz ideada e possível. 

 

Sobre a novíssima senda literária, cabe trazer à baila a sutileza do trabalho de Maria Fernanda Elias Maglio (2017), que dá contornos de poesia à prosa, num estilo particular, mas vinculado à maneira de Valter Hugo Mãe e Raduan Nassar. Com sua verve, também é conhecida no campo da criação poética, o que justifica o seu olhar acerca do estranhamento, onde provoca as mais agudas percepções quanto às questões sociais e à dignidade humana. Tendo ganhado o Prêmio Jabuti em 2018, com a sua coletânea de contos “Enfim, imperatriz”, deu expressão à perspicácia em preciosos signos, confirmando o que se espera do conto, a perenidade e a profusão de significados. Vale ilustrar um trecho do livro:

 

“A casa do meu pai era só desamparo. Casebre baldio, morada de deserção. As paredes rompidas em frestas, o telhado de folhas de flandres castigado pelas chuvas de tantos janeiros, pela brasa de todo domingo, de tanto dia santo, de toda quaresma. Sol que não gasta, não se põe, arde de dia e de noite arrefecendo a espera das gentes esperançosas”. (MAGLIO, 2017, p. 68).

 

Maglio (2017) empresta a poesia à prosa com a capacidade de fazer brotar o ânimo pela leitura do novo, que se encontra em cada linha. Arrebata pela notável verossimilhança. Para os jovens, em condições frágeis de segurança social, atiça o pensamento sobre os dilemas da vida, os quais terão de provar. 

 

Sobre o autor desse trabalho, cumpre apresentar a obra “Contículos de dores reflatárias”, publicado em 2020. Nesta coletânea, Santos aborda a precarização da vida pela ganância, os flagelos a que a maioria da população brasileira está submetida, sobre as dores que não se entregam. No conto-poesia Redenção, o autor retrata a problemática do êxodo rural. Sendo cearense, reconheceu a luta de seu pai e de seu avô, que tiveram de sair do interior do estado para buscar melhores condições de vida na Capital – a cruel e pretensa Belle Époque alencarina. 

 

Vê-se, aqui, a imagem da dor de quem fica e de quem vai:

 

“Olhou para trás, num lampejo profundo de saudade, enquanto a mãe, arriada no chão, chorava. O pai, pouco caso, ares – só ares – de indiferença, virou-lhe o rosto. Então, o milagre aconteceu: uma lágrima, até então contida, caiu. Splaft! A gota, na terra batida, poeira espalhou. Ressoou a imensidão, naquele silêncio sem fim; sem teto, chuva ou comida. Pegou a todos de surpresa. Olharam-se. Abraçaram-se como nunca. Ainda assim, agarrou seus trocinhos, meia dúzia de roupas, determinado e partiu: o elo, o cordão umbilical; a vida compartida, raramente vívida…

 

Ninguém mais soube do seu paradeiro. Nem mesmo ele. Pôs-se a brincar, perdidamente, por aí, ao léu, com os seus sonhos mais íntimos. Redenção”. (SANTOS, 2020, p. 55).

 

Com o perigo incrustrado, quer-se a exposição de algo que acompanha, ainda, a realidade de muitos. Para os jovens que se deparem com o teor da prosa, pode haver, hoje, um descolamento do que houve com os seus antecessores – não é a insensibilidade, mas, sim, o desconhecimento. É possível que queiram saber de seus avós; que destino foram obrigados a tomar, para não serem apanhados pela escassez. O autor ainda trata do machismo, da xenofobia e da homofobia, para alertar o leitor sobre os perigos que rondam a sociedade hodierna. 

 

2 A LITERATURA E LÍNGUA PORTUGUESA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

 

A ficção e a prosa curta não servem ao homem; não são, portanto, meros expedientes para servir ao homem. Contudo, são essenciais à vida, como direito humano. Em nossos tempos de incertezas, pós-pandêmico e caótico, é lógica a conclusão de que não haveria humanidade sem a arte – a fé que nos salva todos os dias se chama arte. Somente a arte é capaz de suprir a decadência de espírito e a barbárie, e possibilitar a supervivência em plenitude8.

 

O que se quer, nesses caminhos de descobertas, é compreender, recolher dados e entranhar-se nos meandros da fantasia, para a constituição do ser, completo de direitos. E há um direito dentre tantos fundamentais ao ser humano, o direito à literatura, resguardado pela Constituição Federal de 1988, que é medida a ensejar a efetiva dignidade humana. Diz-se, pois, que o homem necessita banhar-se de fontes inesgotáveis da cultura, dos ensinamentos que nos precederam, para o empoderamento intelectual (FERNANDEZ, 2020, online).

 

A Constituição, logo em seu artigo 1º, inciso III, trata sobre o fundamental direito à dignidade humana, sem quaisquer disposições etárias; garante, em seu art. 5º, a igualdade: “Todos são iguais perante a lei […]”; e, no seu art. 6º, insculpe a ordem: “São direitos sociais a educação […]”. Trata-se, pois, de instrumento que assegura a dignidade, a igualdade e a educação.

 

No seu art. 227, determina que é dever de todos garantir às crianças e aos adolescentes a promoção e o alcance aos meios culturais, onde se enquadra o direito à literatura. 

 

Para ser humano, no sentido jurídico, para gozar de instâncias culturais, até mesmo abarcando indivíduos em desenvolvimento – foco do projeto –, deve-se acolher e promover a educação. O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), em seu art. 4º, prioriza os direitos à educação, à cultura e à dignidade. 

 

Cida Fernandez (2020, online) aponta que a literatura nos cabe pelo sentido da alteridade, da consideração de que sou porque o outro existe, e que todos cultivamos um amplo sistema, por meio do qual se crê na comunhão.  

 

A literatura tem levado gerações às reflexões mais densas sobre a existência, sobre o papel do homem no meio social, sobre a restauração durável da cadeia de afeto que nos une. Ela rejeita o limbo da incompreensão. A alteridade tem a ver com a empatia do leitor, que se vê imerso na transformação e na conscientização frente a casos de opressão identificados no texto, a exemplo de quando o leitor é afrontando por violências de gênero, de cor, de abuso de poder etc., acometidas às personagens. É o que ocorre, o mais das vezes, em contos de Rubem Fonseca9

 

Antonio Candido (2011), notável crítico literário, trouxe a lume a importância do direito à literatura – matéria colhida em palestra publicada na coletânea “Vários Escritos”. Diz-se que não é possível se alhear da literatura, entranhada em âmbito sociocultural. O desenvolvimento humano depende desse bem tão caro, pois é vinculada à condição inata da imaginação10.

 

O supracitado doutrinador compõe o sentido do que seja a literatura e como ela se apresenta nas pequenas partes do dia a dia:

 

a literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contacto com alguma espécie de fabulação. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabulado. O sonho assegura durante o sono a presença indispensável deste universo, independente da nossa vontade. E durante a vigília a criação ficcional ou poética, que é a mola da literatura em todos os seus níveis e modalidades, está presente em cada um de nós, analfabeto ou erudito, como anedota, causo, história em quadrinhos, noticiário policial, canção popular, moda de viola, samba carnavalesco. Ela se manifesta desde o devaneio amoroso ou econômico no ônibus até à atenção fixada na novela de televisão ou na leitura seguida de um romance (CANDIDO, 2011, p. 176-177).

 

 

Apreende-se que a literatura, como estrutura de formação, deve estar, como de fato está, no “chão” da escola, para atender as demandas dos jovens estudantes. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é a norma que define as aprendizagens dedicadas a essa faixa etária. A literatura tem de cumprir o seu papel humanizador, utilitário, ensejando o aperfeiçoamento do leitor-fruidor, apto a capturar os múltiplos sentidos da prosa. No que concerne às habilidades, deve haver estreito acompanhamento quanto aos conhecimentos de gêneros narrativos e poéticos, elementos da narrativa, configurações de tempo e espaço, a polifonia das diversas narrativas e a construção de personagens.

 

Sobre o estágio referido, base deste estudo, o livro didático do 6º ano, adotado pelo Colégio Santo Tomás de Aquino, é produção da rede SAE, um sistema que oferece soluções educativas. É estruturado e adequado ao ensino dos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. Há explicações dinâmicas, com gráficos, sobre a relação do SAE e a BNCC; fala sobre autoconhecimento, cultura digital, repertório cultural, trabalho e projeto de vida, comunicação, responsabilidade e cidadania, pensamento científico crítico e criativo, conhecimento, argumentação, empatia e cooperação, buscando conexões com outros estudos. A plataforma literária é relevante para o ensino da linguagem. Por ela, o professor pode realizar os encaminhamentos metodológicos, avaliações, propostas de produção de textos e indicar vídeos que instigam a leitura11

 

Quanto ao 8º ano, verifica-se que o livro contempla os tópicos concernentes à BNCC, com autoconhecimento e autocuidado, cultura digital, repertório cultural, trabalho e projeto de vida. Nota-se um infográfico, inclusive com código de barra interativo; preza-se pela aproximação pelo afeto, com mecanismos digitais. A plataforma literária é outro item que incrementa o ensino, proporcionado ao aluno o contato com obras fundamentais das literaturas nacional e mundial. O SAE Digital indica livros que podem ser trabalhados pelos professores. Pelo canal, o professor pode acompanhar a evolução dos alunos, propondo a produção de textos, vídeos com contextualização histórica, que instigam a leitura, e jogos interativos. 

 

Quanto ao conteúdo, existem estímulos muito apropriados, em especial pela leitura de textos narrativos leves e bem-humorados. Nota-se que há ênfase na linguagem, por meio da qual se edificam pontes para as referências culturais, notadamente ideologias, mitos, representações e o conhecimento científico. 

 

É sabido que os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental estão familiarizados e propensos à adoção das ferramentas digitais, tanto para o lazer quanto para a aquisição de conhecimento; é uma realidade inelutável, que deve ser objeto de muita atenção dos formadores, como apontam BOTTENTUIT JUNIOR, FURTADO e PERCEGUEIRO (2021). 

 

Nem sempre as redes de conexão de internet ajudam na informação. Há dados falsos, distorcidos e sem fundo científico, que trazem o efeito contrário do que se pretende para a educação. Por isso, a busca por dados na internet deve ser direcionada, acompanhada por tutores, que também são corresponsáveis pelo processo de instrução, como frisam Cipriano e Barros (2020). 

 

Pensando assim, é possível e salutar o fomento de estudo que envolva a abordagem de contos e crônicas como ferramentas atinentes a provocar o processo de aprendizagem, o autoconhecimento, o estranhamento e a curiosidade – considerando-se a catarse, a purificação dos sentidos, definida por Aristóteles – no domínio da língua portuguesa e da literatura.

 

Mediante a literatura, pode-se avançar no ensino e na aprendizagem da língua portuguesa, na produção de textos e na compreensão global sociopolítica, nos anos finais do Ensino Fundamental, consoante ALMEIDA (2021) e NISKIER (2003), época em que os alunos embarcam na maturidade, cientes quanto ao caminho que percorreram, mas também, como se nota, desejosos de evoluir para enfrentar os desafios futuros.

 

3 A CAPILARIDADE DA PROSA CURTA COMO MEIO DE CONSECUÇÃO DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM DE LITERATURA E DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM ESTUDO EMPÍRICO E DOCUMENTAL

 

A prosa curta é esteio para discussões sociais, acerca da realidade enfrentadas pelos alunos; é uma maneira de chamar a atenção pelo afeto e pela empatia, para a compreensão do todo, com base em SOUZA (2013, p. 7). Elegem-se novas estratégias de chamamento à leitura, à inserção programada de contos e crônicas contemporâneos, com a colaboração harmoniosa de meios digitais e a efetiva cooperação do professor e do autor.

 

A relação dialógica na escola atrai sensivelmente o interesse dos alunos – conflui em atos ideológicos –, curiosos para saber como se produzem as prosas, ou como se conectam ao mundo da ficção, algo nebuloso pela carência da proximidade de autor, livro e leitor, nos moldes tradicionais12.

 

Abrangendo a linguagem, a linguística, a versatilidade e a sua importância para a vida madura, justifica-se a busca dessas ferramentas, por meio da literatura, para catalisar a percepção de mundo. Assim, saberão enfrentar os desafios que estão por vir, e terão discernimento e capacidade de resolução. Acerca da Linguística Aplicada para a leitura, Cipriano e Barros (2020, p. 11) assim definem: 

 

Compreende-se que a proposta da LA se pauta em compor olhar atento para as práticas de letramento (diante dos contextos sociais e das problemáticas educacionais), e, nesse caso, com evidência para a relação mais próxima entre o professor e o aluno. Aquele como um direcionador do ensino por meio de práticas didático-metodológicas e aprendizagem e este, por ser coparticipante do processo, pois que lhe compete também contribuir, em sua condição de indivíduo que aprende e colabora no processo.

 

Considere-se que a leitura de obras literárias carece da aplicação e do interesse dos alunos, também. Abordagens técnicas e historiográficas, se adotadas de modo isolado, podem afastar os alunos, por serem burocráticas e distantes da arte e do estranhamento, ínsitos à literatura13. Como apontado por Soares e Rocha (2020, online), os alunos devem manter íntima relação com os textos apresentados, como ocorreu em sala de aula, em turmas de 8º ano, com a “A moça tecelã”, de Marina Colasanti, adotada justamente no dia internacional da mulher, que abriu o debate acerca do papel da mulher em sociedade, independentes, realizadas por suas conquistas, superando o machismo e o patriarcado estrutural.

 

Os alunos, principalmente os meninos, quando interpelados sobre o que entendiam do texto, souberam ponderar que o papel do homem criado pela moça tecelã era abusivo e perigoso. Diminuía a importância da mulher, impondo os seus vis interesses, contrários à igualdade de direitos. Logo, foi apagado da vida da moça para que ela pudesse viver em paz, sem depender da aprovação de um homem. 

 

As alunas relataram, muito conscientes, que viviam cercadas de mulheres autônomas, que buscavam a sua realização, como a mãe de uma aluna, que estava concluindo a segunda graduação; ou outra, que tinha a sua própria empresa, e dava conta de organizá-la, com uma dezena de funcionários. Assim, o conto tem o poder de levar à reflexão, à conjunção de fatores positivos, que se concretizam na pós-modernidade, a fim de repelir injustiças, como demonstrado, pela luta da igualdade de direitos entre homens e mulheres, na guisa de FERNANDEZ (2020, online).

 

O conto-poesia Redenção, de SANTOS (2020, p. 55), fora apresentado em sala para que os jovens pudessem ter o contato com a dificuldade de seus antepassados, pois muitos saíram de suas terras natais, no interior do estado do Ceará, para buscar condições melhores na capital. Foi o caso de relatarem que várias famílias tinham raízes no interior; que avós tiveram de estudar na capital; que vieram sem posses, à procura de emprego, para manter inclusive os que quedaram no interior; e que sofreram maus bocados.

 

Para mostrá-los como de certa forma nos uníamos, disse-lhes que o avô materno deste autor veio a Fortaleza em meados de 1930, e tinha de escolher entre almoçar ou jantar, pois possuía parcos recursos. Com vinte e cinco anos, concluía o curso de Madureza14, que era oferecido à época aos que não tiveram acesso regular aos estudos; que, com esforço, se formou em odontologia, e, por sua experiência, todos os irmãos vieram à capital. Três alunos do oitavo ano se manifestaram, para relatar que davam valor à história dos avós; que precisavam estudar, para honrá-los; e que o desejo de mudança é algo que todos buscamos para obter uma vida melhor.  

 

Note-se que as letras de uma prosa curta perdem o espaço do protagonismo que deveriam ter hoje porque, em certas ocasiões, como em textos de outro período da literatura, existem conceitos não conhecidos e palavras em desuso – é o que se pensa sobre a empatia que o leitor pode ter com as personagens. Nessa senda, Cipriano e Barros (2020, p. 15) falam sobre a função basilar que o professor possui como mediador, por ser responsável pela escolha do texto e, ainda que indiretamente, pela participação dos alunos, dada a afeição que (naturalmente) têm a certos materiais do gênero15. O professor deve ter sensibilidade ao buscar o que abordará em sala de aula, para que seja de fato impactante, para que possa mudar a forma de pensar e de agir frente à vida. 

 

O ensino há muito deixou de impor a hierarquia opressiva, do ensino bancário – nas palavras de Paulo Freire (1989) –, sendo, agora, pacífico o entendimento de que o aluno deve, sim, ser auxiliado em suas questões, de modo a assegurar que seja o agente principal da própria aprendizagem.

 

Para tornar a prosa curta íntima e para ganhar apreço dos jovens, pode ser realizada por intermédio da leitura em sala de aula, de forma interativa e dinâmica. O professor-mediador deve ensejar a leitura profunda e integradora, que abarque as questões sociais, culturais e históricas, para a formação de um intelecto inserto na conscientização, na igualdade e na justiça social. Note-se que a leitura mecânica – oposta à concepção interativa – é um mal hodierno; o estudo da literatura está, por vezes, cerrado a conhecer datas, nomes de obras e autores, quando os leitores precisam de mais. E o “mais”, aqui, tem a ver com os seus dilemas, formas diversas de viver – ainda mais quando se leva em consideração a realidade dos docentes, que, em particular na esfera pública, têm poucas ferramentas para operar verdadeiros milagres, conforme ensinam GALVÃO e SILVA (2017)16

 

Para a conjugação de interesses, a fim de que os alunos tenham vontade de embarcar nas leituras propostas, devem o professor e a escola proporcionar meios de aproximar, também, o autor contemporâneo dos alunos. Eles são movidos pela efervescência de sua curiosidade e têm amor pelo conhecimento, o que converge com a ideia de potencializar o processo.

 

Vê-se que os alunos abordados suplantaram a mera leitura mecânica – com o suporte da leitura guiada pelo autor e pelo professor –, valendo-se de estratégias que compõem o processo de cognição: ascendente (bottom up), descendente (top down) e integradora – muito mais a integradora, que potencializa a leitura, gerando a ligação entre leitor e o texto, com suas leituras interna e externa, aclarando outras memórias de leituras, assim como descobrindo hipóteses, para consagrar o leitor como agente ativo, como aponta SANTOS (2023, online).

 

A leitura integradora é essencial para as práticas didáticas e para o conhecimento por meio da literatura, tão rica e versátil em nosso País – ainda que arranhada pela crise da modernidade e da tecnologia –, contando com a prosa curta como elemento objetivo e prático, dada a sua disponibilidade em meios digitais. 

 

Juntos texto, professor e autor, além de meios digitais, congregam a afeição e a alteridade, que “destravem” o olhar do aluno para o que possa considerar ultrapassado e improfícuo, e direcioná-lo àquilo que de fato importa: o conhecimento de mundo, para compreender o seu papel social e político. São compatibilizados desejos por vezes desperdiçados ou incompreendidos, para a completude da cognição saudável por via direta da literatura, a qual possibilita ao aluno pensar, inclusive, sobre o sentido da vida e outros problemas relevantes. 

 

Confere-se ênfase à história enxuta, repleta de imagens, que se resolve em parte no papel e opera, de outra forma, a maior elaboração na mente do leitor. Pensa-se que obra/autor e leitor estão em diálogo permanente, para juntos moldarem e serem moldados pelas alegorias em construção. É um processo único, individual, que gera o interesse e a curiosidade – também se concretizada a experiência digital, multissensorial (BOTTENTUIT JUNIOR, FURTADO e PERSEGUEIRO, 2021).

 

A prosa curta é um fenômeno em progresso, em constante mutação (SANTOS, no prelo). Não se pode tê-la como um objeto, muito menos como algo estanque, pois que abarca os fatos sociais e políticos de seu tempo e da história, para explicar o grito tantas vezes clamado pelos filósofos: “O que é a vida?”.

 

Dá-se a conhecer a potência de contos e crônicas, com suas ambientações e personagens, com suas reviravoltas, sem que se precise detalhar; as informações estão subentendidas (segunda história), para que o leitor possa elaborá-las17. Sugere-se (por que não?), e o leitor (dir-se-ia: interlocutor) cria.

 

O leitor jovem espera ser surpreendido, e que o conteúdo seja dinâmico para capturá-lo. Há artifícios que o prendem pela curiosidade e pela agilidade, precisamente como os jogos e as séries, e toda a versatilidade propiciada pela rede mundial de computadores (BOTTENTUIT JUNIOR, FURTADO e PERSEGUEIRO, 2021). Há de existir a comunhão não só pelos livros, mas por plataformas como o Kindle – e-reader, da Amazon – (SCHABARUM e D’ARIENZO, 2020, p.12), que, além da praticidade, enreda um novo modelo de consumo das letras, com uso imediato de livros; que pode ser utilizado em viagens; que permite a leitura à noite, com iluminação adequada; e que possui aplicativo, que pode estar disponível no celular – aproveita-se o aparelho, comum nessa faixa etária, com supervisão do tutor.

 

A prosa não rivaliza com as atrações digitais, possui o seu mundo infinito de possibilidades, suas características, que acentuam a relevância do indivíduo ser inundado por experiências suprassensoriais, assim como pela grandeza de se diversificar o vocabulário, e de poder, ele mesmo, elaborar alguns processos da trama, que são incompletos, um chamamento à imaginação.  

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Nota-se que o trabalho tem pertinência por iluminar os caminhos do desenvolvimento psicofísico dos alunos, uma vez que recolhe ferramentas e estratégias com vista ao bom desempenho do ensino e da aprendizagem da literatura e da língua portuguesa nos anos finais do Ensino Fundamental.

 

Trabalhar com o lúdico e com as letras é um desafio e uma paixão. Deve-se, sempre, aprimorar as formas de contato, cativando, amparando-se pela alteridade. No caso vertente, inclusive, conta-se com a presença de um autor, para ajudar os alunos, na prática, a percorrer os meandros às vezes sinuosos dos enredos da prosa curta. O que se quer é inovar e aprimorar os instrumentos já adotados, de grande poder pedagógico e filosófico, como os que estão insertos, para as séries respectivas, na Base Nacional Comum Curricular.

 

Registre-se que, pela experiência havida na observação do Estágio Supervisionado I, os alunos foram naturalmente apanhados pelo encantamento, aguçado pela curiosidade nata, a vontade de abarcar o conhecimento. Diante do mundo moderno, que impõe e oferece oportunidades, é condição sine qua non que a metodologia se dê de forma dinâmica e interativa. 

 

A prosa curta dá ensejo à imaginação, e aí o aluno é chamado a participar do enredo, para elaborar dimensões, ambientar, acompanhar os erros e acertos das personagens, para ser, de fato, parte ativa e relevante do processo.

 

Pode-se vislumbrar, com ânimo, que as iniciativas estudadas para o artigo científico têm o condão de ser esteio não só para a vida estudantil, mas para que os alunos transponham barreiras sociais ou culturais; para que sejam vetores nas suas comunidades ou na vida familiar, do estranhamento provocado pela arte, como bem situa Guerizoli-Kempinska (2010) ao discorrer sobre Viktor Chklóvski – este, sem dúvida, um magnífico despertar intelectual para a vida inteira. 

 

Não se pode olvidar o poder investido pela catarse, que, na prosa curta, é um átimo e uma eternidade. Todas as atividades desenvolvidas nesse campo corroboram para o engrandecimento do ser humano. O que se quer é cativar a juventude, tão desgarrada da literatura, por pensar, erroneamente (na medida em que ainda não encontrou a sua leitura), ser, este, um exercício moroso – quando, na verdade, é o cerne e o sentido para novos e poderosos horizontes.

 

Conclui-se que os jovens dos anos finais do Ensino Fundamental estarão mais disponíveis às letras quando comungadas com leituras dinâmicas, amparadas por um autor, com o uso, inclusive, de jogos ou de material multimídia para incrementar o ensino. No campo da tecnologia, vê-se a possibilidade de se adotar nas escolas a leitura pelo software Kindle, um instrumento versátil, que permite observações do aluno e do professor – como, até mesmo, vem com indicações do próprio autor –, para tornar o processo mais prazeroso, atendendo à novidade.

 

Como no colégio abordado, é imprescindível que o ensino seja apoiado e conectado a plataformas digitais, em que o aluno possa, sozinho, buscar os livros de seu interesse e indicados pela escola numa biblioteca digital; que a leitura se faça de forma guiada pelo professor, que é mediador apto a desfazer qualquer incompreensão; e que haja o suporte de um autor contemporâneo, com amparo financeiro do Estado, para mostrar aos alunos como se “faz” literatura na prática. 

 

É de bom alvitre apresentar aos alunos obras tradicionais, consagradas, mas também obras contemporâneas, na mesma medida, porque há a probabilidade de que se encontrem nos enredos; que reconheçam os dramas por que passam as personagens, que podem ser as suas; para que conjeturem meios de enfrentar as questões sociais, imbuídos da empatia e da justiça. 

 

Notas

 

1 “Os irmãos publicaram os Contos de fadas para crianças e adultos (1812-1822). Destacam-se os contos que foram traduzidos para o português: A Bela Adormecida, Os Músicos de Bremen, Os Sete Anões e a Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira, O Corvo, As Aventuras do Irmão Folgazão, A Dama e o Leão”. (FALCONI; FARAGO, 2015, p. 89).

 

2 “A primeira coletânea de contos infantis foi publicada do século XVII, na França, durante o faustoso reinado de Luís XIV, e nasceram para falar aos adultos. Os estudos da literatura folclórica e popular de cada nação iniciaram-se a partir do século XIX, ficando em destaque Charles Perrault, com seu livro Contos da mãe Gansa (1697). Os contos incluídos neste livro são: A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar”. (FALCONI; FARAGO, 2015, p. 89).

 

3 “Além de estimular a imaginação e contribuir para o enriquecimento do vocabulário, a criança com o conto, pode também desenvolver e alcançar diversos objetivos, como: expansão da linguagem infantil, facilitando a expressão corporal; estimulo à inteligência; socialização; formação de hábitos e atitudes sociais e morais, através da imitação as crianças podem construir bons exemplos e situações decorrentes das histórias; cultivo da memória e da atenção, despertando interesse e gosto pela leitura”. (FALCONI; FARAGO, 2015, p. 86).

 

4 “Tchekhov muito se interessava pela técnica do conto […]. Afirmava que uma história nada deve conter que seja supérfluo. ‘Tudo que o que não tiver relação com ela deve ser impiedosamente jogado fora.’, escreveu. ‘Se, no primeiro capítulo, se disser que da parede pendia uma espingarda, no capítulo segundo ou terceiro alguém a deve disparar sem falta.’ Parece bastante justo, e justa igualmente é a sua exigência de que as descrições da natureza sejam breves e ligadas ao caso” (MAUGHAM apud TAVARES, 2013, p. 3).

 

5 “Minha alma está repleta de preguiça e do sentimento de liberdade. É o sangue que ferve à chegada da primavera. Mesmo assim, cuido dos negócios. Estou preparando os materiais para um terceiro livrinho. Corto sem dó. Curioso, agora ando com mania de coisas curtas. Tudo o que leio, seja meu ou de outrem, parece que nunca é curto o suficiente” (TCHÉKHOV, 2019, p. 43-44).

 

6 Em “A arte como procedimento”, V. Chklovski diferencia o discurso poético do prosaico, através do estabelecimento das disparidades entre os objetivos e imagens criadas por cada um desses discursos. O autor esclarece que, durante anos (e talvez ainda hoje), houve uma tentativa de generalização e aproximação das finalidades desses dois meios de expressão que, somente quando tratados nos limites de suas peculiaridades, podem ser efetivamente compreendidos. Ao tratar as diferenças entre a língua prosaica e a língua poética, o ensaio apresenta dois processos que são a chave para a compreensão e distinção das funções das imagens por elas criadas: os processos de automatização e singularização. Assim, por meio dos exemplos citados, consegue-se perceber que, para Chklovski, a imagem do discurso quotidiano é facilitadora e procura encurtar o caminho da percepção, enquanto, na poesia, a imagem é provocadora, procura estender ao máximo a percepção e acaba por criar um discurso efetivamente instigante e, por isso, elaborado”. (COSTA, 2012, online, grifo nosso).

 

7 “Chklóvski achava que a busca pelo insólito, pelo não familiar durante o processo de criação seria capaz de libertar o espectador da letargia mental, realizando assim a tão almejada comunicação estética. Segundo ele, a função inicial da arte seria a de causar esse tipo de estranhamento perceptivo no fruidor. Pensado por   esse ângulo, o estranhamento artístico seria, por definição, exatamente o oposto de alienação; algo que deveria orientar o artista criador durante seu trabalho”. (VAZ, 2014, p. 45).

 

8 “Da poesia, Barthes já disse ‘Poesia = prática da sutileza num mundo bárbaro. Daí a necessidade de lutar hoje pela poesia: a poesia deveria fazer parte dos ‘Direitos do Homem’; ela não é ‘decadente’, ela é subversiva: subversiva e vital’. Lutar pela poesia para se submeter e submeter quem quer que seja a seus cuidados sutis, subversivos, vitais” (PUCHEU, 2016, online).

 

9 “A literatura estimula e alimenta nossa imaginação, que é a essência da nossa humanidade; nos provoca e possibilita o exercício da alteridade, pois nos coloca no lugar de outra pessoa (as personagens); contribui para o desenvolvimento do nosso repertório linguístico, aumentando nossa capacidade de comunicação com o mundo; e, ainda, nos propicia de uma outra maneira conhecer o desenvolvimento do mundo e os conhecimentos produzidos ao longo da história” (FERNANDEZ, 2020, online).

 

10 “Cândido definiu a literatura como toda criação de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até às formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações. Nesse sentido, não passamos mais de um dia sem mergulharmos no universo da imaginação e da fabulação. Contamos, vivemos, sonhamos e imaginamos estórias. Além do que, a literatura é um instrumento poderoso de instrução e de educação, prossegue o crítico” (GODOY, 2020, online).

 

11 Para o 6º ano, são indicados os seguintes livros: “O que é liberdade”, por Renata Bueno; “Dom Quixote (em quadrinhos)”, de Miguel de Cervantes, adaptado por Márcia Williams; “Diário de Pilar em Machu Picchu”, de Flávia L. e Silva; “A guerra de Troia em versos de cordel”, de Maurício de Sousa e Fábio Sombra; e “A cidade sinistra dos corvos”, de Lemony Snicket.

 

12 Com fundamento no que dispõem Antunes e Brochado (2006, p. 1).

 

13 “O que se propõe aqui é enxergar o texto literário como obra de arte e viabilizar situações em que os estudantes se envolvam com a literatura. Que eles possam se apaixonar pelo texto, bem como criticar, odiar e questionar, afinal envolver-se é diferente de simplesmente gostar de tudo que lhes é apresentado. Em muitos casos, as práticas de leitura que ocorrem na escola oferecem poucas possibilidades de expressão da subjetividade dos estudantes, que geralmente são obrigados a concordar com uma análise e interpretação que já vêm acompanhadas do oferecimento do texto” (SOARES e ROCHA, 2020, online).

 

14 “Nome do curso de educação de jovens e adultos – e também do exame final de aprovação do curso – que ministrava disciplinas dos antigos ginásio e colegial, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1961”. (MENEZES, 2001, online).

 

15 “O trabalho que o mediador faz corta atalhos e leva o leitor à fonte certa. A partir desse pressuposto, destaca-se o valor que há na escolha de um texto a ser lido, compreendido e analisado pelo aluno. A verdadeira compreensão do que é lido passa pela satisfatória cognição do intelectual, social, cultural e histórico pelos quais o leitor está inserido. Conhecer a afeição que o leitor possui torna-se uma percepção muito desejada quando se pretende alcançar sucesso e obter o tão sonhado “gosto pela leitura”. Assim disposto, concebe ser indispensável tratar das teorias que trazem à tona a importância de se mediar uma leitura”.

 

16 “Leahy-Dios (2004) critica esse ensino, identificando sua ligação direta com os conteúdos exigidos nos exames vestibulares, o que o reduz ao estudo de datas, nomes de obras e autores e suas características. Ainda critica a condição de trabalho dos docentes, principalmente os que lecionam nas redes públicas, os quais estão sujeitos a políticas salariais não condizentes com suas necessidades, além de não usufruírem de valoração social por parte da comunidade em geral. A autora também questiona os livros didáticos, que vê como instrumentos constituídos por regras pré-estabelecidas e distantes da realidade de docentes e discentes”. (GALVÃO e SILVA, 2017, p. 211).

 

17 “Você sabe o que é preciso para escrever um conto?” Disponível em: < https://biblioteca.pucrs.br/curiosidades-literarias/voce-sabe-o-que-e-preciso-para-escrever-um-conto/>. Acesso em: 06 set. 2023.

 

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Fotografia de Adriano B. Espíndola Santos

Adriano B. Espíndola Santos é natural de Fortaleza, Ceará. Em 2018 lançou seu primeiro romance “Flor no caos”, pela Desconcertos Editora; em 2020 os livros de contos, “Contículos de dores refratárias” e “o ano em que tudo começou”; em 2021 o romance “Em mim, a clausura e o motim”, pela Editora Penalux; e em 2022 a coletânea de contos “Não há de quê”, pela Editora Folheando. Colabora mensalmente com as Revistas Mirada, Samizdat e Vício Velho. Tem textos publicados em revistas literárias nacionais e internacionais. É advogado civilista-humanista, desejoso de conseguir evoluir – sempre. Mestre em Direito. Especialista em Escrita Literária e em Revisão de Textos. Membro do Coletivo de Escritoras e Escritores Delirantes. É dor e amor; e o que puder ser para se sentir vivo: o coração inquieto.

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