Ao meio-dia,
coxa de frango
entre os dedos e a polpa da palma,
Gaius aguarda
a hora das batalhas,
quando das arquibancadas
as sombras do entardecer sobre a arena
parecerão uma arcada dentária.
Agora o arauto brada
é chegado Orfeu, deus poeta
que com lira em punho
encanta as feras.
O vulto surge do escuro,
pescoço revirado ao túnel
como a condenar
o que o segue
às trevas.
Em seu encalço
briosas leoas, luzentes panteras
criaturas admiráveis
de África sempre novidades
fungando a retinta terra.
Orfeu no centro da arena
de cristão já tingida
com que arte poderia, de cordas
vocais e de lira,
conter tais tendões,
tais mandíbulas?
Acordoamento ora tenso
ora lasso
que urros e olhos abestados
acompanham encantados.
O arauto logo anuncia
pão será distribuído.
Mauricio Vieira, jardineiro de palavras, é autor dos livros de poesia Manual Onírico de Jardinagem, As Mão Vazias, do romance A Árvore Oca e do infantil ilustrado Floresta. Edita a revista Arvoressências: www.arvoressencias.com
Mais informações: https://linktr.ee/Jardineiro_de_Palavras