Cultura

Sobre Un auto pasa, de Julieta Hanono ou a desaparição cria uma linguagem poética | Gladys Mendía

SOBRE UN AUTO PASA, DE JULIETA HANONO OU A DESAPARIÇÃO CRIA UMA LINGUAGEM POÉTICA

 

 

Julieta Hanono, artista argentina, formada em Belas Artes e em Filosofía. Foi militante política desde muito jovem e sequestrada pelos parapolicías na ditadura de Videla e retida em El Pozo, centro de detenção e tortura em Rosário, Argentina. 

 

Sua obra está edificada ao redor e sobre esta experiência traumática. Sua busca expressiva vai pelos caminhos da transformação através da criação de imaginários que deem conta de seu processo pessoal e formam parte da memória de horror que viveu seu país naqueles anos. Julieta tem se posicionado como artista através de diversas obras plásticas e performance que tem apresentado em vários países ao longo destes anos, além de um vídeo titulado El Pozo

 

Un auto pasa, é um momento, são segundos. Porém, o que está atrás deste título é memória. Un auto pasa, apresenta uma linguagem fragmentária, sem tempo cronológico e simultaneamente em quatro línguas, quatro visões do mundo. Quatro formas de sentir. A experiência individual forma parte da memória coletiva. O subjetivo é universal. 

 

Transitamos uma atmosfera de incerteza, de estranheza. Mesclam-se as memórias de Julieta e o sequestro, outros sucessos trágicos e a história migrante de seus familiares. 

 

Esta poética está estruturada em mudanças de foco entre a experiência pessoal e a dos outros. É minha interpretação pensar que foi construída assim para tomar distância da própria dor e reconhecer aos outros, criar empatia com a dor dos outros. Evidenciar algo mais profundo que damos por assentado e é a frágil condição humana dependente das circunstâncias externas. Por um lado, à mercê da violência sistemática criada por um governo totalitário. Por outro, à mercê da guerra e sua destruição, as migrações forçadas. Aparições e desaparições, luzes e sombras, os matizes, enfim, a impermanente vida humana. 

 

Un auto pasa nos diz, inventa um significante. Julieta não escolhe fazer narrativa, escolhe a linguagem poética para dizer a experiência da ditadura militar. Não é um testemunho, é a transformação em algo novo e que ao mesmo tempo nos remete aos fatos dolorosamente vividos por milhares de pessoas durante o fatídico regime.

 

Un auto pasa foi publicado originalmente na revista Nioques (París, 2016), em espanhol e francês. Posteriormente, Carnaval Press (Londres, 2018) o publica com as traduções da autora, somando as da escritora e editora Virna Teixeira, em inglês e português.

 

Un auto pasa, a desaparição cria uma linguagem poética.

 

Fox Island, WA. Febrero 2020.

 

 

 

Fotografia de Gladys Mendía


Gladys Mendía (Venezuela, 1975) Escritora y editora. Traductora del portugués al castellano, contando entre sus trabajos de traducción la antología poética de Roberto Piva titulada La catedral del desorden (2017). Fue becaria de la Fundación Neruda (2003 y 2017). Participó en el Taller de creación poética con Raúl Zurita (2006). Ha publicado en diversas revistas literarias, así como también en antologías. Sus libros: El tiempo es la herida que gotea, 2009; El alcohol de los estados intermedios, 2009; La silenciosa desesperación del sueño, 2010; La grita. Reescritura de Las Moradas, de Teresa de Ávila, 2011; Inquietantes dislocaciones del pulso, 2012; El cantar de los manglares, 2018, Telemática. Reflexiones de una adicta digital, 2021; LUCES ALTAS luces de peligro, 2022. Es editora fundadora de la Revista de Literatura y Artes LP5.cl y LP5 Editora, desde el año 2004. Co fundadora de la Furia del Libro (Feria de editoriales independientes, Chile). Como editora ha desarrollado más de veinticinco colecciones entre poesía, narrativa, ensayo y audiovisuales, publicando a más de 500 autores.

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