Cultura

Cinco poemas

Apaixonado

 

A sua mão toca a minha

Ampara-se nela

E pelo tempo dum passeio

A minha mão torna-se tua

As nossas ruas separam-se

Por alguns longos meses

Depois finalmente nos encontramos

E tu retomas a minha mão

Para ver

Se continuamos a viagem

Como na primeira vez

Os nossos passos seguros 

Enfrentem os interditos

Os nossos corações lançam um desafio

Aos que no escuro

Prendem os amantes

E ninguém vai sonhar

Em aprisionar

Nos nossos olhos

A esperança

 

Hoje, é Páscoa

 

Voa a gaivota

Majestosa

No céu azul

Da Provença

Ela dá uma volta e depois parte

Para o mar

sempre mais distante

Eu fico ali

A olhar

A igreja sem sinos

Dois vagabundos na praceta

Três luzes vermelhas solitárias na avenida

 

A linguagem do Sul

 

Uma pérola de lágrima  No meu rosto  Corre para os meus lábios

Gosto salgado  Água do mar

Lembrança do país em que Pepe está pescar

A melodia que ele canta  Toca o meu coração

A linguagem do Sul  Eu também a entendo

 

Uma pérola de lágrima  No teu rosto  Corre para os teus lábios

Água do rio com sabor suave

O teu país  Está tão longe

A melodia da tua terra Penetra  os meus sonhos

A linguagem do Sul  Quem a entende?

Minha amiga

 

Vieste de um país

De dança e lágrimas

O teu amor, criança da ilha

Levou-te com ele

Apesar da língua

Nós compreendemos bem

Quantas discussões na cozinha

com a Senhora Giusi

Quantos dias na praia

com os amigos

Todos

Maravilhados

Com o biquíni

Que revelava o teu lindo corpo

Cor de chocolate

Anos depois fomos encontrar-nos

Naquele dia no Porto

Abraçámo-nos com força

E depois de algumas lágrimas

Foi retomada a amizade

Como antes.

 

Talvez um sonho

 

Em Paris, a luz agredia-me

E o barulho eu não o aguentava mais

Depois desse infortúnio

Eu tinha perdido até a minha saúde

 

Em Nápoles, não foi melhor

Eu segui o meu caminho até ao cais

Onde um barco esperava

Todo o meu corpo me doía

 

Atravessando o Burgo

Em direção à Capela

Encontrei uma luz amiga

Que me envolveu enquanto eu caminhava

 

Eu estava leve, leve

 

No meu regresso

O encantamento tinha desaparecido.

 

Tradução do inglês por HENRIQUE DÓRIA

Sinologista franco-maltesa originária da ilha italiana de Ischia, ELIZABETH GUYON SPENNATO deixou a Europa ainda jovem para estudar na Universidade de Taiwan.  Vive, depois, em Pequim, onde é atriz e letrista de canções de sucesso. De volta à Europa, tornou-se especialista juramentada em chinês – italiano – francês, abriu uma empresa de tradução para chinês e publicou três romances em França.

Em 2003, um grave acidente afetou-lhe o cérebro. Uma cirurgia ocular permite que ela veja bem e, após anos de reabilitação, encontra uma nova criatividade graças à fotografia. Laureada da Fundação Banque Populaire, publicou ,no final de 2018, nas Edições Orients, o livro “Persas, a alma de uma geração” ( fotografias suas  e traduções de poemas persas) que deu origem a inúmeros encontros em livrarias e exposições na França e no exterior. Elizabeth retoma a composição de poemas, em chinês, mas também em italiano e napolitano, a língua de seus ancestrais.

O seu livro infantil em inglês “The dream life of Little Paul” é publicado em 2019 em Malta (Faraxa Publishing) e “La langue du Sud – 南方 的 語言”, um livro de poemas chineses seus adaptados em francês Desde 2020, Elizabeth organiza encontros internacionais de poesia no Insta live. Os seus poemas são publicados ou lidos em vários livros ou páginas online, e um de seus poemas tradicionais chineses acaba de ser publicado na nova edição da prestigiosa revista impressa “Li Poetry” de Taiwan.

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