Poemas | Lou Fu
UMA ONDA
Estar no mundo,
Porque floresce para alguém?
Uma onda contempla como surges abruptamente ao longe
As lentilhas-de-água flutuam no universo solitário e sereno
O orvalho é a onda com que ela derrama lágrimas no Imenso
É a macrofotografia da manhã espalhando intermináveis ondulações
***
COMO DIZER ADEUS
Tendo vindo de Yan Shang por mar
Estás também a partir sem dizer adeus
Entre estes setes dias interpretando o que será sobre vida e morte
Tivesses tido uma vida passada enquanto história da poesia
Como uma rajada de brisa fresca e estaladiça que gentilmente nos acaricia
Disseste: Aliás, não é mais que uma forma de ser livre e fácil, desenfreada ou desinibida.
Tenho muita vontade de obstruir e cobrir a minha vista
Não querendo encará-la, como encarar?
Devo saudar o brilho nas orelhas amareladas do trigo
Ou ficar rodeada pela intrigante vastidão do mar de papoilas
Perante tal extensão de quinta doente alargada com poemas
Essa é a iluminação em mim a partir das pétalas de flores que brotam por toda a terra cultivada.
***
UMA BELLE
Uma belle é como ondulações aquáticas,
momentaneamente calma,
flutuando algum tempo,
enquanto uma libelinha pára e roça gentilmente a superfície da água
arranhando ondulações que se quebram.
Ela mergulha lentamente e afasta-se.
A seu lado, a lentilha-do-mar vagueante
Olha para as gotas caindo à superfície: são chuva miudinha.
Enquanto contempla, pára de chorar.
***
FORTUNA
Numa coincidência diária,
A fortuna do coração pensa sobre coincidência.
Ignoro ao longe a inquietante branca imperata cylindrica,
Que é movimento oscilante de lés a lés.
Em época Vai-Não-Vai,
Um milhafre agitado move-se lentamente em espaço imaginário,
Para caçar certeza e acaso.
Semelhante a uma coleção, qual espécie de amor,
É como um peso-pluma ou um raio de luz
Vividamente relembrado e que mal me foge da memória.
É como a reminiscência fabulosa,
A suavidade da vida, ou a temperatura do coração interior,
Para ser apenas retido em retenção.
Tal cena é
Como a fortuna do encontro entre denominador e numerador.
Enquanto desabrocharem flores matinais,
A solidão revelará a fragância.
***
O PÁSSARO E A NUVEM
Tu és o pássaro,
Eu sou a nuvem
Quando sentes a minha falta
Não consegues ver-me
Quando sinto a tua falta
Não consigo encontrar-te
O amor faz-me hesitar,
deixa-me esmorecer,
és a única esperança com que conto,
em quem choquei por acidente.
Amor, tanto tempo contido no meu peito,
como é prontamente possuído pelo acaso,
até se tornar um pateta olhando para trás,
meu humor de súbito afundado em distintas camadas enevoadas.
Que pomba branca!
Quanto te adoro,
A vastidão da escuridão, densamente sufocada à minha frente,
abruptamente
transformada em névoa acidental,
e as águas da chuva, apaixonadas,
viraram-se agora para o final nunca encontrado.
Talvez
a paixão que nutro, pela pomba branca aqui à mão,
seja excecional na fusão de nuvem e bruma, de vento e chuva.
O ideal, elevado num abrir de asas,
no vento e na chuva varrendo todo um céu sombrio,
esse, não deve abster-se com a exceção da beleza.
No mundo, há um espaço em que nada colide,
embora vaciles e hesites,
embora vaciles e tagareles em camadas de nuvens,
o isolamento sentimental, e a cidade vazia na solidão,
são a bondade eterna e efémera
A pomba branca, obrigado.
Que te eleves ao abrir asas numa sentimental e isolada cidade vazia!
O pássaro e a nuvem,
na imensa fixação cinza, o céu branco e o céu azul,
passam a aconchegar-se juntos entre a pomba branca e a nuvem.
***
RE-ESCULPINDO PARA REVIVER A MEMÓRIA DE INFÂNCIA
Como uma pequena estrada rural sendo alargada nos anos 50
Entretanto desaparecida,
Quando adensada, na terra dos sonhos a preto e branco
Pelo seu episódio de morango silvestre.
Deixa agora que gloriosas flores matinais se deitem na noite vagamente escurecida, Sobre a parede baixa, parcialmente em ruínas, ao longo da encosta inclinada,
E que rastejem nas curvas, ziguezagueando lentamente para diante.
Lou Fu (Hsu, shih-ting) nasceu em Taiwan. Membro da Sociedade de Poesia de Taiwan, Sociedade Chinesa de Poesia, Sociedade Internacional de Investigação em Poesia. Foi editora do artigo “China miniature poetry” e editora da secção “Estilo Extra-Territorial”. Autora das seleções de poemas “Banxia” (2017), “Shimmer” (2019) e “Imagética” (2021). Autora de poemas incluídos em “Poesia Chinesa Contemporânea 300”, “sete cordas: escrevo poemas rios e lagos 111”, “Prosa do Povo Chinês 2017-19”, antologia poética “2021 China miniature poetry”, “2020 Hong Kong olive leaf Poetry Yearbook” e outros. Enviada internacional para a paz do “FMPDH Fórum Mundial pela Paz e Direitos Humanos”, os seus poemas foram traduzidos para Inglês, Espanhol e Italiano.