Cultura

Livro de contos, Mínimos campos, traz a oralidade para o banal mais prosaico de Minas Gerais | Fernando Andrade

A diferença entre a narração e a oralidade num livro de contos se deve ao jeito como a voz do narrador se comporta ao se comunicar com o seu leitor. A oralidade me parece mais uma conversa informal onde o relato é mais próximo ao fato ou evento e não modificado pela arte literária. O desejo não é exposto ao artefato da construção do texto elaborado pelas palavras. Quando leio Mínimos Campos do escritor Vivalde Brandão Couto Filho, editora 7 letras, percebo que o autor aproxima a narração ao lugar de onde a ação corriqueira transborda para a voz natural e espontânea de quem conta os casos de um lugar onde se produz não histórias, mas também mitos sobre verdades universais, mentiras tão saborosas que parecem casos de ficção.

 

Esta relação entre o que acontece entre o real e o mito, é o cerne do livro de Vivalde. Ele conta situações que acontecem nos campos da Geral, lugar assombroso e miraculoso onde tantos autores produziram obras estupendas como Guimarães Rosa. E Rosa é uma das inspirações, onde o povo toma a forma do individual mais arcaico e antigo quanto uma ação pode se desdobrar quando um agente a modifica para dar uma graça à fala, ao mote para tomar um efeito de humor, de piada, por que o surreal também faz parte, de pequenos eventos de Minas, com sua mistura de terra e civilização. E para isso os contos descritos aqui sofrem às vezes o apelo de certa violência latente não sem um mordida de humor feroz, por que ele corta Na piedade, equipara a tragédia ao cômico.

 

Outra relação mais formal é Vivalde transformar seu texto em poesia pura sem uma pontuação, com vírgulas e pontos dando um entonação sincopada. A visualidade da mancha é quase poema, onde o fluxo é tão musical quanto uma partitura de uma letra ou melodia.Na leitura dos contos a voz se torna mais melódica mais perto de notas musicais. São experiências da oralidade do autor perto de um sertanejo canta\autor. 

 

Fotografia de Fernando Andrade

 

Fernando Andrade, 54  anos, é jornalista, escritor, poeta e crítico literário. Colabora com a revista literatura e fechadura com resenhas e entrevistas. Tem oito livros, entre eles A perpetuação da espécie, 2018, Penalux. Interstícios, poemas, 2021 Penalux, A Janela é uma transversalidade do corpo, contos, Penalux, e Se a vida fosse um vinil, poemas, 2022, Penalux.  Fez parte de dois coletivos, o de arte Caneta lente & pincel, e clube da leitura de escrita. 

 

Qual é a sua reação?

Gostei
0
Adorei
2
Sem certezas
0

Também pode gostar

Os comentários estão fechados.

More in:Cultura