Em torno de ‘Não-coisas” de Byung-Chul Han, Relógio d’Água, 2021 | Cecília Barreira
Que os filósofos não se enquadram com o universo da internet e das redes sociais, já o sabíamos.
Mas inventar um léxico preciso para escalpelizar o fenómeno, é curioso.
O autor nasceu em Seul, mas fez estudos superiores na Alemanha.
É professor na Universidade das Artes de Berlim.
Na realidade o mundo divide-se entre as coisas e as não-coisas.
As não-coisas são a Informação. As pessoas no universo do digital, consomem informação e dados.
Claro que o autor centra a sua crítica nos smartphones. E no facto, para ele inegável, de que somos controlados por algoritmos.
Mas talvez o autor não percecione que o século XXI veio revolucionar o século XX e complementa as referências do estar e do ser.
Sem dúvida que a emergência do estar permanentemente “ligados “, nos transporta para um outro estar.
Até as guerras são “ao vivo”, quer nas plataformas do digital quer nas televisões.
Mais do que nunca o olhar é o elemento fundamental do estarmos vivos. E claro que após mais de dois anos de pandemia, estamos mais afastados fisicamente uns dos outros. Mas as redes sociais são uma forma de estar e de conviver que não é despicienda.
As Artes se não se desenvolverem para serem captadas também através do digital, poderão angariar menos públicos.
É um desafio para as Artes. É um desafio para os criadores em geral.
Como interpretar que a maioria das pessoas tire selfies e as coloque no Instagram ou no Facebook?
Já é algo de instintivo. Algo que faz parte do novo real.
Porque é que os filósofos se demarcam tanto do digital?
Durante uma vida inteira, tiveram a Palavra em posse sagrada.
E agora veem com maus olhos a Palavra espalhada pelas redes.
Os detentores da Palavra Sagrada, tudo perderam.
É o pranto da perda que se verifica nos livros dos filósofos da moda.
Cecília Barreira: Professora de Cultura no Departamento de Estudos Portugueses da NOVA-FCSH.