Breve resenha crítica: livro de poemas cortantes chamado “Gambiarras”: as “bijutelíricas” de troio poéticos de JOSEP DOMENÈCH PONSATÍ


Capa do Livro
-Na capa do livro GAMBIARRAS, de cara parece uma espécie assim de graciosa arapuca desmiolada, e o livro assinado por um literato dito estrangeiro, mas que também compõe belos poemínimos em gracioso português, ainda assim um catalão, meio entre brasilianista e espanhol, talvez catalaneiro ou brasilão… Nessa mistureba de joio e de trigo, o autor poeta escreve como se soltando farpas entre fogos-fátuos…
-Bem, o miolo do livro vai de achamentos a baldeações, em ‘poemas cortes-rápidos’ como lâminas-poemas, tudo entre o joio das catanças e o trigo das invencionices letrais, troios, portanto, e entre as bijuterias dos achados a lírica dos desmiolados cheios de closes. É nesse foco que a criação alumbra.
-Na primeira orelha do livro o Sérgio Rodrigues o nomina tradutor que habita nossa língua pátria; e “língua mátria” – Caetanear, por que não? – assim degringolando o gringo, já que Josep troca, troça, trama, tripudia, empluma o godê dos neologismos todo próprio de quem amansa burro na curva da palavra chã, meio entre Dali e pelancas do cubismo. Essa gambiarra toda de acepipes, apalavreada identifica o autor, entre o “humorticida”, mas também fulo, mordaz, irônico, ferido, sentindo-se em casa nessa nossa tão expandida portuguesa língua brasileira, brasileirinha e brasileiríssima…
-A segunda orelha do livro, vazia. Alguma coisa também faz sentido quando não é escrita. Preparando terreno para o cidadão leitor não ter piripaques ao ler de supetão o todo que o projeto literário engloba?
-O bom cabrito é o que berra, diz o adágio popularesco. Que Josep bem antenado pratica, pondo as tripas esquisitas, esquizocênicas e esquizofrêmitas dos prismas evocados para fora na sua poetaria cheia de carne. E aqui e ali, pirilâmpadas… Gororobas com a linguinha de fora… Jujubas ácidas? Desaforismos até. Josep fez salada de picão, entre o pica-couve dos versos e as estrofes resumidas em nanosfilamentos de poetar…
-Esse puta poeta catalão não embroma, logo, solta o verbo, pensa, escreve, e eis isso: gambiarras do arco da velha. Junta céus e infernos na mesma alcova, e assim muito bem mistura joio e trigo (troios), baldeando palavras, verbos, frases curtas, feito surtos circuitos de laboratório de ser-se. Joseph escreve versos como quem transa. Válvulas de escapes? Quem esperma sempre alcança… Viajando na maionese…


Josep Domènech Ponsatí
-Você lê GAMBIARRAS ri, e curte, e pensa: não acredito que ele tenha escrito isso e aquilo outro de rastilhos. Delícias, pensa, e segue o turno da leitura a selfie aberto. Parecem fotogramas de um lambe-lambe dito estrangeiro alçando chão tupiniquim para “limonódoas”. Curto e grosso. Rápido e rasteiro. Num liquidificador de lampejos, Josep deposita-se enlivrado:
“-No cio do sol
(corós no mamoneiro)
Tudo é calango” – pg 95
Por essas e outras que bem-te-li, bem-te vi e bem-te-ri, Josep Domènech Ponsatí. A ousadia é a técnica de refino dos pá-lavranças…
Um catalão à brasileira fazendo versos como quem goza chiclete farpado.
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Silas Corrêa Leite, Itararé, São Paulo, Brasil
BOX
LIVRO: Gambiarras
AUTOR: Josep Domènech Ponsatí
132 páginas – Ano 2020
Editora: www.kotter.com.br – E-mail: contato@kotter.com.br
Silas Corrêa Leite. Itararé-São Paulo/Brasil. Autor de TIBETE, De quando você não mais quiser ser gente. Romance, 2017. Editora Jaguatirica, RJ