Água de colônia | Beatriz Aquino
Sou culpada.
Admito.
Sou frívola e vã.
Pois aprendi francês antes do guarani.
Também sou colônia.
Também trago as mãos amarradas e a língua bi partida.
Não sei como chamar o meu deus.
Nem que cor tem o meu santo
Minha aleluia é emprestada.
Minha moeda também.
Só a minha cor é a única coisa que me resta.
Um ou outro mapa de casa perdido na palma da mão.
A lembrança dos açoites na pele dos avós maternos.
E essa vista turva e vertiginosa do mundo.
Beatriz Aquino, além de escritora, é formada em Publicidade e propaganda e é atriz de teatro. Beatriz também é autora dos livros: Apneia (romance), A Savana e Eu (crônicas), Caligrafia selvagem (poesia), Anne B.: a hora mais pacífica, e outros. Colabora em diversos sites, jornais e revistas, como o jornal O tornado e a revista InComunidade, do Porto. Atualmente vive em Portugal.