Cultura

Vestal em Knoby

Eu sei Vestal Flames é de pranto pronto. Pranto de pouca profundidade, raso, mas pranto. Interrompe o pranto, mas velozmente recomeça. Vestal Flames é uma salamandra aquática, retrógada.

 Vestal Flames é nociva, perniciosa, fétida, um verdadeiro tumor no arquipélago de Knoby.

Antes de Vestal Flames desmaiava-se tranquilamente nas ruas, não havia perigo, as flores dos jardins libertavam azoto e alimentavam de energia o arquipélago. 

Noite e dia as ruas, os caminhos, os carreiros estavam isentos de uivos, berros, ou qualquer outro grito lamentoso. Era impossível em todo o arquipélago discernir qualquer urro, bramido, grito, nem que fosse de longe,  ou sob promessa de sigilo, ninguém tinha que esconder medo ou terror. 

As focas, os inebriantes mamíferos que viviam nas colinas surtiam desnudas, expostas, reveladas, com a cabeça altiva descoberta! Mamíferos sem adorno, desfolhados de qualquer caução, elas não precisavam dizer – “Demos a nossa palavra de honra”. Eram a própria honra em banha e barbatana! Pela manhã debitavam diariamente ovos estrelados, azuis com gemas amarelas, que, juntamente com o bacon que os seus enteados tubarões debitavam, davam pequenos almoços singelos mas deliciosos!

O que é que aconteceu em tal arquipélago ventripotente? Porquê Knoby é agora de Vestal Flames?

Na manhã de 5 de Agosto de 3000 uma lava de gelatina começou a emergir nas colinas, engrossando dia a dia, ganhando hora a hora uma espécie de nervuras quentes. As primeiras e infelizes vítimas foram as focas, mortas e mortas sob alçados de nervuras, pavorosamente, espantosamente, terrivelmente cozidas pela temperatura medonha.

As nervuras depois de sorverem as focas deram lugar a bolsas, transformaram-se em couro, bolsas e bolsas de couro, um couro grossíssimo. À vista pareciam panças de sangue coagulado, ou gomos de ranho misturados com terra, ou chifres colados e acamados uns sobre os outros.

O arquipélago inteiro deixou de tomar o pequeno almoço, a tristeza começou literalmente a empossar-se dos corações dos Knobyanos, viam-se escornados pelo destino e sentiam que as colinas guardavam agora algo de maligno.

As tentativas para esventrar as nervuras não passaram de tentativas, por maior que fosse a contundência do objecto/instrumento utilizado, elas eram incorruptíveis, indestrutíveis, nem a mais pequena arranhadela o couro apresentava. Mandaram vir um tocador de pífaro de outro arquipélago, que tinha fama de com a sua música abrir as mais difíceis portas, ou janelas, ou quaisquer aberturas, mas as nervuras não tinham entrada, nem saída, eram obscuros ermos de dureza que não se podiam atravessar, nem mesmo escalar, todas as tentativas para o fazer redundaram em falhanços.

“Haverá uma nervura entre todas as nervuras que será mais frágil, mais macia. Se a encontrarmos, podemo-nos livrar destes estafermos”, disse alguém.

Só que para encontrar a nervura mais macia, era preciso percorrer a cordilheira das nervuras e isso era uma impossibilidade provada e comprovada.

Os tubarões perante o desaparecimento das madrastas haviam partido, antes a servidão e o cativeiro que a mais total das orfandades. Os pais não haviam conhecido e agora até daquelas mães de doação se viam privados. Oh carência negra, escassez de familiares tremenda, viam-se lançados na escravidão de não terem laços!

Em data incerta a cordilheira de nervuras apresentou umas malformações na zona que era visível nas bordas. E distando uma das outras por alguns metros, dois, três, nasceram bocas.

Chamaram-lhe bocas os Knobyanos apenas pela sua função primordial, ou seja, a de falarem. Porque no demais o seu aspecto não era semelhante ao das bocas, e bocas de quê?, de quem?, ao certo, para lhes poderem chamar bocas?! Mas que falavam, falavam, quase ininterruptamente. Falavam como a Vestal Flames chorava.

Estas bocas, as três, eram cinzentas, delimitadas por pequenas rugas brancas. Cada uma tinha quatro pernas: as pernas de baixo despidas e claras, as pernas de cima, mais escuras, saíam das clavículas, e tinham os pés calçados com sapatilhas de ponta branca. Os braços estavam escondidos  e cruzados por debaixo destas pernas superiores que, por sua vez, também estavam cruzadas. 

As sobrancelhas das bocas eram carregadas,  dois pares, um por cima do outro. Usavam um penteado démodé, de risco ao meio, e mais ou menos até ao centro do crâneo tinham ralo cabelo esbranquiçado. O nariz era adunco e as narinas, vistas debaixo, desenhavam um dois incompleto. 

Eram uma visão lúgubre estas três bocas rodeadas pelo resto das nervuras que continuavam imutáveis, e continuam. De permeio às palavras arremessadas pelas três bocas saíam salpicos de banha no qual se sentia o odor das antigas focas das colinas, aquelas dadoras excelentes de tanto pequeno almoço gratuito!

O que pode uma criatura fazer sem pequeno almoço?, não há orgia que a alicie, não há paisagem que a cative, não há sorriso que a sintonize, há apenas uma vasta pleiade de instantes inoportunos!

E aquele cheiro de gordura das focas, que amargo odor! 

Os olhos dos Knobyanos amareleciam e começavam a libertar uma fina poalha branca semelhante às aparas de papel que se libertam dum livro novo e pouco usado, as mulheres deixaram de dar à luz Knobys e passaram todas, igualmente, a dar à luz em nove meses, chamas. Infortúnio! Infortúnio! Como haviam de alimentar as chamas? À medida que cresciam cada vez queriam mais alimento, iam as casas, as árvores, e por fim até o vento. 

A temperatura no arquipélago subia subia. 

O calor era tão intenso que os Knobyanos não se conseguiam mexer, permaneciam sentados, ou deitados pelos caminhos, e os que queriam sobreviver tinham que controlar as lágrimas (a irrupção do choro) pois estas quando saíam dos olhos, saíam tão quentes que os matavam, no meio de um atroz sofrimento.

Os ouvidos praticamente estavam fechados, os tímpanos haviam anquilosado, porque entre si não podiam falar, porque o esforço para o fazer, era superior às suas forças. E em relação ao que as bocas diziam, era sempre o mesmo e eles já as ouviam sem tímpanos.

Uma– Chamo-me Vénula.

Outra- Venusino.

E a outra- Venúsia. 

As mulheres continuavam a parir chamas.

À medida que os Knobyanos iam ensurdecendo, cada vez viviam mais perto das cordilheiras de nervuras e das três bocas.

A primeira vez que um adormeceu com a cabeça pousada numa das pernas superiores de uma das bocas, ela para além de ter dito:

Chamo-me Vénula, disse também:

Bebe um quotore e parte que do outro lado do mar esperam-te quitutes. 

O Knobyano continuou a dormir. A boca Venusino falou depois de Vénula:

Isto é um quintal astro de rabanetes, rabecas e rabanadas.

E Venúsia ripostou:

Tocaste com o plectro na perdiz, ela será perene.

Alguém de fora do arquipélago ouviu as bocas, elas já não eram só um nome que falava. Falavam mais do que um nome. 

Quem ouviu Vénula, Venusino e Venúsia foi Vestal Flames.

Vestal Flames chegou de helicóptero e desceu sobre as cordilheiras de nervuras. 

As knobyanas, por essa altura, já haviam falecido, descorçoadas pela dor de não poderem alimentar os filhos. 

Vestal Flames saiu do helicóptero atravessou a cordilheira até ao pé das três bocas. Pegou na cabeça do Knobyano que adormecera em cima das pernas suplentes de Vénula, levantou-o em peso e cuspiu-lhe na cara a seguinte mensagem em sânscrito:

Se um perdigoto te sair da boca distorce-te o perfil e já não vais poder ser peri. Sem peri não há paraíso.

O Knobyano acordou do seu sono letárgico e respondeu:

Nas nossas terras bebe-se Rique, somos rijos porque mesmo assim não corremos o risco de nos embebedarmos.

Vestal Flames deixou-o cair em cima de Vénula com toda a força. Vénula agastada disse:

Tira a mona mole de cima da almofada, deixa-te de momices e vai trabalhar, que monarca sem trabalho não recebe menção.

Este Knobyano outrora adormecido, em cima dos braços superiores de Venúsia é, ora, no presente, rei. 

Vestal Flames transportou-o às cavalitas para o cume da cordilheira de nervuras. E ele começou a reconstruír o arquipélago de Knoby.

Vestal Flames sentada no cume com o rei knobyano às cavalitas olha para as três bocas. O rei aponta para uma das bocas, à vez, com o grande ponteiro de verga, e quando lhes toca, elas falam. Agora menos, mas com grandes consequências para o arquipélago.

Toque na Vénula e Vénula diz:

Ser é uma qualidade de séquito, o pior dos séquitos é o que mais tarde ou mais cedo se transforma numa súcia de bandidos.

Grande humilhação sofreram os bandidos de todos os arquipélagos ao serem assim denominados, ainda que no futuro e após trasnformação, tenham deixado de ser súcia, encolheram-se dentro dos seus capotes e guardaram as suas máquinas de calcular e sobretudo não ousaram ser súbditos deste rei.

Sem séquito de súcia está o poder incólume, frígido é certo, mas incólume, não terá que lidar nestes dias primordiais da criação com intrigas malquistas de despeitados, nem com chantagens de atentados terroristas hipotéticos… que o problema é quando deixam de ser hipotéticos! E não tem que lidar com toda uma quantidade de lixo que um séquito de bandidos pode deixar atrás de si, garrafas, mosquetes, botijas de gás lacrimogéneo e mostarda também, fragmentos de toda a espécie de armas, e as cápsulas das perigosas bactérias e vírus que são a destruição de qualquer civilização e a que nem as chamas, outrora filhas de Knoby, poderiam resistir. Até essas perderiam o ardor da sua vida perante tão perseverantes e combativos soldados da destruição! Que as guerras nos arquipélagos não são como no teatro, artefactos que não matam nem um mosquito e sacos de areia ou de aparas de madeira a servir de barricadas. Não se bombardeiam as criaturas imunemente! Antes ser punido pelas grandes tempestades do que ser visitado por expedições de indesejáveis séquitos!

O ponteiro de vime do rei de Knoby toca em Venusino, que diz:

As mulheres usam tamancos, apanham tâmaras e são todas de tamanho médio.

Em cada circunvalação da cordilheira de nervuras despontaram tamancas enfiadas em pés, pés colados às pernas, pernas a troncos, troncos a cabeças, ou seja mulheres. Criaturas resistentes, de tamanho médio, de proporções justas, criações estéticas de uma beleza religiosa!, monumentos de arquitectura carnal matinal, frescas como flores de lótus!, vozes melodiosas semelhantes ao susurro dos rios, dançarinas celestes com olhos meigos de deusas cujo poder abarca as serpentes ou qualquer animal, rastejante ou não!, que se desloque em intenções maléficas. 

As Knobianas fumam cigarros perfumados. O fumo ao enlevar-se no ar cria um céu de bagos apetitosos. As nuvens no arquipélago são sumarentas, luminosas, aveludadas. E as mãos das Knobianas!, as mãos delas! enchem-se a todo o instante de perfumadas tâmaras! Tâmaras que ao caírem sobre as nervuras fazem nascer arbustros e mais arbustos. O ponteiro de vime já não se vê, mas está lá escondido pelos arbustros!

O vime toca em Venúsia, Venúsia diz:

O astro é rico em urânio, com ele se urde a urbe.

Os Knobianos acordaram e trabalharam as minas, um qualquer astro deixou cair sobre o arquipélago urânio, a riqueza é tal que poder-se-á ficar a explorar urânio para todo o sempre. As docas reformuladas, deixam ver múltiplas embarcações que transportam o urânio para o exterior. Várias identidades e grupos zelam pela imagem do arquipélago extraportas, e apresentam-se ao mundo como a grande parada do Urânio. A parada onde os objectos mais insuspeitos, feitos com tal metal, se paramentam de originalidade e funcionalidade  e se apresentam como modelos grandiosos duma genialidade emergente.

Os homens, o único esforço que têm que fazer é empurrar as vagonetes para fora das minas até às docas ou às fábricas de transformação. Porque todo o resto do trabalho de exploração faz-se por si próprio, seguindo as ordens de Vénula, Venusino e Venúsia. 

As três bocas observadoras são incansáveis!

Vestal Flames continua com o rei às cavalitas no cume da cordilheira. O ponteiro de vime toca Venúsia. Venúsia está em trabalho de parto. O Rei pede desculpa, e aponta para Vénula. Vénula diz:

As crianças vagem, enquanto os homens que os transportam empurram as vagonetes de urânio para as terras do Valabuá.

Nas terras do Valabuá estão radicadas as principais fábricas de transformação de urânio. Junto às fábricas são os infantários. Os homens transportam as crianças às costas, lenços brancos amarrados, e os infantes lá vão, não cantando e rindo, mas vagindo! As mães, essas, com as mãos repletas de tâmaras caminham por todo o arquipélago reflorestando-o. Longe vai o tempo em que as crianças chamas se alimentaram de toda a vegetação!

O Venusino acrescenta à fala de Vénula, uma outra fala:

As crianças gostam de xarope de cenoura, no carnaval mascaram-se de xexés e dormem em lençóis de xilo.

Junto às docas florescem campos de xilo, os barcos que se aproximam vêem quadrados brancos misteriosos. Duma brancura alva, dura que, ao primeiro relance provoca dores nos olhos, mas depois se transforma num banho resplandecente de claridade. As roupas em todo o arquipélago são de xilo, brancas. Só no carnaval as tingem para brincarem à diversidade cromática. E as crianças que bebem sobretudo leite pedem como guloseima às mães, xarope de cenoura porque é laranja segundo eles e lhes deixa os lábios e os dentes sujos, e eles pensam que são fantasmas a brincarem entre lençóis de xilo.

Venusino toca com o joelho numa das pernas superiores de Venúsia. Venúsia pensando que era o toque do ponteiro de vime diz:

Wagner é quem reina no quintal, joga todo o dia whist, com o seu filho Werther.

Wagner às cavalitas de Vestal Flames vira a cabeça para as três bocas e arreganha a larga fateixa – sim jogo todo o dia whist com o meu filho Werther. Isto com uma mão, porque com a outra mão, seguro o ponteiro de vime com que vos faço falar, e no vosso caso, caso único, falar é produzir. E isto é um arquipélago, não é um quintal!

Continua Vénula:

As crianças aprendem a usar muito cedo as zarabatanas, zarpam manhã cedo para a escola, e quando chegam a casa o zelo das mães consola-os das feridas.

Viajam em grupos de dois porque têm medo dos fantasmas das focas e dos tubarões que antes viviam nas colinas e durante todo o tempo zarabateiam-se, são ágeis e extremamente ardilosos no uso das armas, às vezes as feridas que infligem uns aos outros não são feridas de somenos sofrimento! Quando um se fere, o outro sopra-lhe as feridas até chegarem a casa e as mães lhes dispensarem os curativos devidos às feridas provocadas pelas setas ou bolinhas que as zarabatanas lançaram. A criança que sopra transporta também a zarabatana para que o outro não se canse. As feridas que infligem uns aos outros apaziguam-lhes quaisquer iras que pudessem nascer entre si.

 A zarabatinice é uma grande conquista desportiva e sem dúvida beneficiará as futuras gerações! Venúsia que estivera em trabalho de parto, volta à fala:

Wagner providencia orgias para os seus amigos, todos os orifícios dos convidados tem que estar expostos e decorados com orixás.

Assim é!, diz Wagner encavalitado em Vestal Flames, assim é! Os meus convidados sentem-se felizes com os orifícios em exposição, por um oríficio pode sempre sair qualquer coisa, ou entrar, claro está, por isso deve estar livre de qualquer roupagem! Já pensou como se sentiriam infelizes os homens que empurram as vagonetes de urânio com os seus oríficios tapados, camuflados, sufocados, e como a sua infelicidade se colaria aos oríficios dos filhos atados nos panos brancos às suas costas? Já viu toda a escada de infelicidade que o tapar, que  um tapume sobre os oríficios poderia provocar? Seria maior que a escada que os enfermos paralíticos tem que escalar para sair do inferno. Metaforicamente falando, que o inferno não existe e os enfermos paralíticos são uma ausência poética dos textos sérios da nossa época! E essa linguagem das metáforas perdeu-se. Eu, Wagner, ainda sei algumas tiradas, mas poucas, digo, e digo agora:

Yet somos conhecidos, dizemos yes e sabemos o que foi yesterday.

Venúsia passa o seu filho Horácio Caixeiro a Venusino e continua:

A atmosfera do quintal é neónica, os jardins estão repletos de nespereiras e o grau familiar mais respeitado é o de neto. 

Lindos epitáfios para os knobyanos, durabilidade e continuidade, as nêsperas e as tâmaras revigoram o sangue, o algodão lenifica a cutis e o urânio singeliza as mentes e dá-lhes elasticidade para uma compreensão dilatada do arquipélado, uma compreensão do arquipélago, não do quintal, uma mumdivisão do arquipélago de Knoby! O arquipélago dos jardins onde nada vegeta mas sim, tudo floresce! Vestal Flames olhou para o umbigo, e com dilatada voz falou para Venusino:

Se saltares de janelo em janelo vais dar à jangada e aí não há jansenista que te apanhe.

Aqui, quem respondeu prontamente foi Vénula:

Não há jansenistas, esqueces-te que súcia de bandidos não é aqui séquito de Wagner.

Um dos convidados de Wagner que se banha nos quadrados de algodão pergunta:

Indago, é indecoro um homem partilhar os seus orifícios? Incrimino quem indague!

Horácio Caixeiro filho de Venusino comenta:

Homem sem ífen é o mesmo que Hilota sem senhor, e Hímen sem orifício.

Venúsia interpõe-se:

Ele sabe bem o que diz, ainda agora saiu de um orifício.

Wagner levanta as saias e cobre com elas a cabeça de Vestal Flames e diz quase em surdina:

Garanto-te que a garantia é um garante e que o grelo é bolbo que grita.

Os bolbos gritam?,  pensou Venusino, é possível que se as bocas falam os bolbos gritem! Certo é que é fraca toda a fracção da fragata afundada! Vestal Flames não consentia que aportassem ao arquipélago embarcações com criaturas que trouxessem intenção menos clara, e assim elas se afundavam ao largo sob uma poalha de urânio lançada por catapultas catódicas que dispersavam o fino urânio de uma forma tão precisa que os mal intencionados eram atravessados pelos grãos de poalha e caiam na água, pareciam crivos de carne temperados com pimenta preta.

Venúsia grita exultante: 

Que abundância absurda abutre, abusa, abusa. Abutrância! Abutrância!

Os que pareciam crivos de carne temperada com pimenta preta acabavam por ser arrastados pelas ondas. Como era da sabedoria das antigas focas, sabido é, que uma cunha na porta evita que ela cuspa, que porta cuspideira dá cópula cascavel.

Quem quer cópula cascavel? Quem quer ser inseminado de veneno? 

Vénula contrapõe à cunha na porta de Venusino a flora dos bacanais que da cópula pode surgir e diz: 

Bacanal sem bacharel, é como bacio sem asa.

E doutorices, ou ascensões a doutorices é coisa que os knobyanos não podem suportar, revira-se-lhes o estômago e lá se vai a ventripotência da raça dilúvio abaixo.

Wagner escuta-a e diz em ascensão linguística constante, ou seja boa dicção, nível esmerado e soletrar das palavras claro, correcto e conciso. Incita Wagner:

Dilata a dilacerante dimensão, não há dano que diminua o nosso dilúvio – dilema – dignitário. Digno da nossa dieta digestiva.

Ao falar de dietas os homens que empurram as vagonetes pararam, ergueram os olhos ao céu e gritaram em uníssono:

Que saudades do nosso pequeno almoço com ovos e bacon!

A Vestal Flames chora num arfado choro obsidiante, de arranques contínuos e pouco espaçados entre si. Ela mexe a cabeça com violência, Wagner retira a saia que lhe cobria a cabeça e começa a sentir-se assustado.

Vestal Flames diz:

Esturjão é solha esturrada na etapa frigideira, próxima etapa prato, próxima etapa lixo.

Ovos estrelados e bacon, nem solha nem esturjão podem substituir as dávidas das focas e dos seus enteados tubarões!

Vestal Flames é um tumor benigno, Vestal Flames chora, e nos caminhos nuvem-se gemidos!, porque ela, a nossa dedicada, chora. 

Nós temos medo. 

Vestal Flames é um temor.

O ponteiro de vime toca em Venúsia. 

Venúsia pergunta a Vénula e a Venusino:

Lestes o Leste? Região letal, não achais?

 

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