Cultura

Poemas | Ester Abreu Vieira de Oliveira

NOVOS TEMPOS

 

Las nobles espadas de tiempos gloriosos,
desde sus panoplias saludan las nuevas coronas y lauros
¿las viejas espadas de los granaderos, más fuertes que osos,
hermanos de aquellos lanceros que fueron centauros?.
Las trompas guerreras resuenan:
de voces los aires se llenan…

 

A tarde é cinza e triste.

A princesinha está triste.

Chora a princesa.

 

As trompas guerreiras ressoam

e as bombas de hidrogênio caem

carregadas de confusões políticas, de ódio e de dor.

(Mas há tantos cisnes

que cantam dores e amores)

 

-Onde estão os clarins e lauréis? Onde?

 

Os homens centauros, guerreiros,

de cores que gritam, que ferem

nas veias de gelo e aço, 

]nas embaixadas se fecham,

deixando os sonhos das princesinhas

no fumo de fábricas,

nas torres do negro petróleo.

(-Mas há cisnes!…)

 

Já não são vistas as chaminés das gentis casas…

Já não se sente as fragrâncias das rosas no ar…

E os carros, lançando o negro petróleo de suas chaminés,

envolvem o mundo

de noite de fumo.

(…Mas os cisnes cantam!…)

 

A princesa chora

os tempos de paz

e de ternura.

 

 – Onde estão as rosas, os lauréis e os clarins? Onde?

***

O DELÍRIO DO CATIVO

 

Erros meus, má fortuna, amor ardente

Em minha perdição se conjuram.

 

                                      Luis de Camões

No último delírio

bailam

                          silhuetas

gentis.

 

– Breves enganos do amor !

 

LEONOR – Formosa e dadivosa

                     cabelos de ouro trançados.

BÁRBARA – Bela cativa

                       cabelos pretos.

                    – A mais formosa –

DINAMENE – Ninfa levada

                       “asinha” pelas ondas.

 

A alma transfigurada de amor

não sente a dor.

Nem a pobre matéria, o branco lençol.

 

No delírio, a glória o abraça

e a imortalidade guarda

sua fortuna, amor e perdição

nos quatro cantos da Terra.

 

 

***

 

 

DOM MANUEL I

 

Há nos seus olhos o sonho do Oriente

e a profundeza dos mares inexplorados.

 

Lisos cabelos pretos cobrem a testa

de Dom Manuel, o venturoso rei

de Portugal daqui e d`além mar.

 

Uma barba longa de sábio senhor escurece

a testa varonil, do rei Pio, pelos hebreus chamado.

 

O rei de Algarve só viu em sua nação prosperidade

porque assim os fados o determinaram.

 

Gama lhe abre os mares exóticos.

Mas é Cabral que lhe dá o mais rico presente:

uma terra santa, verdejante e rica.

 

 

***

 

 

A AMBIÇÃO DE SANCHO PANÇA

 

                    “Vale más buena esperanza que ruin posesión”

                      Miguel de Cervantes. El Quijote

 

Homem do sonho

Grande coração.

 

Amigo fiel

Pança das panças.

 

Sonha uma ilha

Sonha glórias

Sonha poder.

 

Por que, Sancho, continua

procurando ilhas

em seu burrinho

se ele é a pérola dos seus pés?

 

Por que sonha riquezas, Sancho?

Não tem no seu íntimo a mais duradoura?

 

 Por que quer mandar nas pessoas se não

sabe mandar em sua pança?

 

***

 

 

A PAZ DO CAVALHEIRO

 

O devaneio é doce.

 

– Doce é o amor

do cavalheiro sofredor.

 

Doce é o mel.

 

-Mais doce é Dulcinéia 

flor das donzelas.

 

Na alma sofrida do valente

agitam-se dragões e bruxas

e frágeis donzelas.

 

-Dulcinéia! Dulcinéia!

Suspira o cavalheiro.

E em sua fronte

pousa um lírio,

salpica-lhe a luz do amor.

Chega-lhe a paz.

 

 

Ester Abreu Vieira de Oliveira (Muqui  – ES-Brasil–1933), escritora, atua nas áreas de teatro, poesia e narrativa das Literaturas Brasileira e Hispânica e é membro do colegiado do PPGL/UFES. Tem publicações de: poesia, ensaio, crônica, memória, infantil, didático, traduções e discurso, É Professora Emérita da Ufes, Presidente da AEL, Vice – Presidente da AFESL, Tesoureira da APEES, membro do IHGES entre outras entidades e é membro de conselhos editoriais.

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