Poemas | Chen Hsiu-chen
No Teu Abraço
No teu abraço
Eu me transformo em barco
Largando o vento e a vela
Atracada no teu porto suave.
No teu abraço
Eu me transformo em pombo branco manso
largando todo o céu,
para te ter como minhas asas.
No teu abraço
eu perco a minha direção
dependendo das duas tochas dos teus olhos
para me navegar na noite sem fim.
No teu abraço
Reencarno todo meu corpo inteiro em apenas um ouvido
não ouvindo os animais rugindo para mim,
mas apenas ouvindo o teu sussurro.
No teu abraço
sem um gesto desarmo minha arma e balas,
porque tu me armaste com o engenho mais poderoso
com que estou disposta a ser ferida por ti.
Oh Neruda
vou passar a minha vida inteira
trocando contigo
um abraço de amor eterno.
***
Sussurro
As flores brancas
voam como a neve.
Os sons clop-clop dos saltos altos
passearam numa fileira de árvores floridas
mergulharam num odor floral luxurioso.
Parece uma ilusão
ou um feitiço
Não me esqueças! Não me esqueças! Não me esqueças!
É o sussurro das pétalas
ou as vozes suprimidas no fundo do meu coração?
Oh, meu Neruda,
sob o céu estrelado de Santiago
o meu coração floresce como a neve,
as suas pétalas vão voar no teu coração.
***
Esquece-me
Não só as flores brancas
até aquelas flores silvestres vermelhas, laranja, amarelas e roxas
também sob o incentivo da brisa da primavera
competem umas com as outras murmurando
murmurando para mim:
Não me esqueças! Não me esqueças! Não me esqueça!
Não só as ondas ou aves marinhas
até as folhas também sob o luar prateado
sussurram para mim
Não me esqueças! Não me esqueças! Não me esqueças!
Não só os vales ou colinas
até as estrelas, lua e sol
também sussurram para mim ininterruptamente
Não me esqueças! Não me esqueças! Não me esqueças!
Oh, meu Neruda,
Tu és o único no mundo
Que ainda não me confessou:
Não me esqueças! Oh,
Não me esqueças!
***
Ao Entardecer
As árvores
Erguem as suas mil mãos e dedos alto
para capturar os pássaros cansados.
Da esparsa floresta
há olhos luminosos olhos
a espiar.
Estamos sentados no carro para contar
os olhos
os olhos cada vez mais.
Durante a viagem de ligeira vibração
como num berço lentamente embalado
a atmosfera noturna torna-se um amuleto possível.
estou procurando
um ombro largo para minha cabeça descansar
como uma cama quente no meu sonho.
Oh, meu Neruda,
nenhum visto complicado é necessário para a minha terra dos sonhos
numa prévia avaliação livre das evidências.
Eu prometo-te livre entrada
por cem
ou mil vezes.
***
Coleções
Na casa cheia de coleções
tu e o amante sentaram-se lado a lado
em cadeiras íntimas ao longo de uma mesa
compartilhando café quente
sob a doce luz da manhã
ou no momento preguiçoso do entardecer,
talvez também compartilhem um pouco de tristeza.
Casos de amor às vezes são tingidos de cinza e azul.
Na residência sem ti
O teu caminhar obscuro
aproxima-se de mim passo a passo
para me guiar para as tuas coleções favoritas
que colecionaste por muitos anos.
Escuto as cordas duplas do amor
em ressonância como dois corações pulsando.
Assisto ao amor no tango
à aparição das sombras das rosas e de ti mesmo.
Oh, meu Neruda,
entre tuas enormes coleções
o que me causa mais ciúme
é o teu trabalho de acreditar no amor.
O teu amor
nunca acaba.
Eu consigo roubar
uma bela linda
dos teus poemas de amor
para dissolvê-la
em licor de ouro ainda hoje.
***
Vinho Tinto
O oceano fabricado pelo tempo
torna-se uma piscina de delicioso vinho
tornando os meus olhos
bêbados
ao entardecer.
Uma recarga de vinho
Faz os meus intestinos, o meu estômago
e o meu coração de pedra
bêbados.
Eu, como uma mulher de madeira,
estive bêbada,
tornando-me uma corda de uvas gordas
a ser transformada
numa garrafa de vinho tinto
com alto teor alcoólico.
Oh, meu Neruda,
bebe-me
deixa-me ocupar-te
como um peixe possui um oceano inteiro.
(Tradução do mandarim para o inglês por Lee Kuei-shien, e do inglês para o português por Henrique Dória)
Chen Hsiu-chen, formou-se no Departamento de Literatura Chinesa na Universidade de Tamkang foi editora de vários jornais e revistas, agora é um dos membros editores da “Li Poetry Sociaty”. As suas publicações incluem o ensaio “A Diary About My Son”, 2009, a poesia “String Echo in Forest”, 2010, ”Máscara”, 2018, “Paisagem incerta”, 2017, “Poesia de Tamsui”, 2018 e “ BoneFracture”, 2018, mandarim-inglês-espanhol trilíngue “Promise”, 2017, bem como em mandarim-inglês “My Beloved Neruda”, 2020.
Os seus poemas foram selecionados em mandarim-inglês-espanhol trilíngue para as antologias “Poetry Road Between Two-Hemispheres”, 2015 e “Voices from Taiwan”, 2017, espanhol “Opus Testimoni”, 2017, italiano “Dialoghi”, 2017 e “Quaderni di traduzione”, 2018, bem como em inglês “Whispers of Soflay”, Vol. 2, 2018, “Amaravati Poetic Prism”, 2018 e “Amaravati Poetic Prism”, 2019. Poemas seus foram também traduzidos para o bengali, albanês, turco, vietnamita, romeno, hindi, nepalês, sindi, japonês, hebraico, polaco, catalão, sérvio, árabe e outras.
Participou no Formosa International Poetry Festivals, de Taiwan, e no Kathak International Poets Summit, em Dhaka, Bangladesh, no Festival Internacional de Poesia “Ditët e Naimit”, em Tetova, Macedônia, Capulí Vallejo y su Tierra, no Peru, Festival Internacional de Poesia de Sidi Bou Saïd Tunísia, “Tras las Huellas del Poeta” no Chile, 3º Festival Internacional de Poesia em Hanói, Vietname, 6º Iasi Festival Internacional de Poesia, na Romênia, bem como no Festival Primer Internacional de Poesía das Ediciones El Nido del Fénix. Foi premiado com estrella matutina pelo Festival de Capulí Vallejo y su Tierra, no Peru. Recebeu ainda o Prémio Literário Líbano Naji Naaman, de 2020.