Dois poemas | Octavio Perelló
AMIGO FIEL
Agarro as patas das palavras
arranco-lhes as garras
para que não cortem
o pescoço dos poemas
Sigo o rito linguístico
de separar as suas letras
estudar o modo sonoro
e domar a fúria dos fonemas
Só aí as tenho cativas
cabeças mansas em meu colo
sem cóleras nem coleiras
lambendo as mãos do amigo fiel
***
ELEGIA
Queria ir a um cabaré
que tivesse uma puta
que fosse você
Queria me esconder num confessionário
e ouvir os pecados mais puros
de uma santa
que fosse você
Nos momentos mais desesperados
queria gritar
junto a uma louca
que fosse você
Tanto quanto não queria
morar nessa prisão
que nos rouba a poesia
(Estes dois poemas pertencem ao novo livro de Octavio Perelló, editado pela Editora Patuá, “Inventário de inutensílios”.
Algumas palavras sobre o livro:
“Inventário de Inutensílios” é o novo livro do jornalista, escritor e poeta Octavio Perelló, que tem como tema central a ideia do poeta pantaneiro Manoel de Barros, de que “o poema é antes de tudo um inutensílio, e também a premissa do poeta baiano Waly Salomão de que “a poesia é a menos culpada de todas as ocupações.” O prefácio é do poeta, letrista, escritor e ex-professor de Literatura Brasileira da UFRJ e PUC-Rio, Abel Silva.
O tema da suposta inutilidade do poema (ou, por extensão, da poesia, como gênero literário) permeia o corpo (e a alma) dos textos do livro (poemas e prosas poéticas), que se utiliza da memória social e pessoal para se comunicar e dialogar com o leitor, a partir do exercício da linguagem e expressão de valorosos símbolos humanos que a poesia permite. “Inventário de Inutensílios” foi escrito para compartilhar ideias, e é fruto do trabalho, vivências, leituras e pesquisas realizadas nos últimos anos.
https://www.editorapatua.com.br/produto/262830/inventario-de-inutensilios-de-octavio-perello