Cultura

As Poetas Mulheres na Literatura Brasileira | Rubens Jardim

 

Em 2011, após constatar o pouco caso em relação ao trabalho das mulheres poetas, resolvi fazer um desabafo. E esse desabafo acabou virando meu blog de ponta cabeça. Deixei de publicar qualquer outra coisa e meu blog virou o blog de AS MULHERES POETAS na Literatura Brasileira. Em apenas um ano, em 2017, reuni 252 poemas de 63 poetas. E elas foram vistas e acessadas 103.396 vezes. Ou seja: uma média de mais de 8 mil visitas mensais 

 

 

 

O poeta brasileiro Linaldo Guedes registrou que “AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA é a maior antologia do gênero publicada no Brasil.” Não pesquisei absolutamente nada nessa direção, mas pude sentir, ao estar pesquisando e divulgando esse trabalho, que a repercussão foi tamanha que essa afirmação só pode mesmo ser correta e verdadeira. Mais ainda: esse trabalho, embora tenha ganho versão impressa apenas agora, em 2021, ele ocupou integralmente o meu blog desde meados de 2011, o que sugere um outro aspecto importante dessa iniciativa: o pioneirismo. 

 

Devo confessar, porém, que era meu intuito prosseguir pesquisando e divulgando as poetas e seus poemas até o fim de meus dias. Vários amigos e amigas — poetas e escritores — sabem disso e ouviram essa confissão, fruto do meu entusiasmo e da minha paixão. Só muitos anos depois de iniciada essa pesquisa é que resolvi alterar esse compromisso comigo mesmo. 

 

Foi em novembro de 2017, ao realizar a centésima e centésima primeira postagem que me ocorreu a ideia de transformar esse vasto material coletado em livros virtuais. É preciso registrar que este insight só apareceu depois de mais de 6 anos de pesquisa e divulgação. Já havia atingido a expressiva cifra de mais de 400 poetas catalogadas e mais de 1600 poemas reunidos e publicados. 

 

A partir desse momento comecei a ordenar esse material, o que me deu uma trabalheira gigantesca. Explico: nas publicações que realizei, em meu blog e em espaços amigos e parceiros, o único critério a nortear o trabalho era a qualidade dos poemas e das poetas. Em razão disso, o leitor poderia encontrar na mesma publicação, uma poeta nascida em 1930 e outra nascida em 2000.  

 

Certamente na versão virtual – e-book – essa caótica organização deveria desaparecer. Precisava encontrar um modo de facilitar a vida do possível leitor. Aí caiu a ficha e resolvi reestruturar todo esse material seguindo o critério cronológico. É claro que arranjei sarna pra me coçar!!! Mas consegui, após buscas incessantes, concluir essa etapa do trabalho. 

 

A partir daí diagramei tudo isso em três livros que ficaram alojados na plataforma ISSUU. Cada um tinha a sua própria capa com a mesma estrutura visual –mas com padrões de cores diferentes. Acho que isso aconteceu por volta de 2018. Claro que fiz inúmeras postagens fazendo chamadas para esses livros que poderiam ser acessados gratuitamente. 

 

A origem desse mapeamento, de nomes femininos que produziram e produzem poesia no Brasil, está na minha indignação contra o preconceito e o esquecimento proposital da contribuição cultural da mulher em vários campos do saber e das artes. No caso específico da literatura, a questão é mais próxima ao meu universo e por isso mais revoltante ainda. 

 

Basta dar uma espiada em textos de Silvio Romero e José Veríssimo _ famosos críticos e historiadores da nossa literatura do século 19 _ para comprovar isso. Pode-se até, com muito boa vontade, relevar esse aspecto de segundo plano reservado às mulheres. Afinal, eram poucas as mulheres “atrevidas” a publicar naquele período.  

 

Mas quando fiquei sabendo que um cara tão bacana como o professor Alfredo Bosi só menciona dois nomes de poetas do século 19 e menos de uma dezena de poetas que desenvolveram trabalhos no século 20, fiquei estarrecido e indignado. Aí baixou Xangô, orixá da justiça, e iniciei esse trabalho em favor das mulheres poetas. 

 

E as pesquisas foram me mostrando que, nesse trabalho de garimpagem, eu estava encontrando muito ouro puro. Não posso deixar de registrar o trabalho fantástico organizado por Zaidhé Muzart, Escritoras Brasileiras do Século XIX, pontapé inicial da reavaliação desse nosso patrimônio cultural. Publicado em 2000, o livro com mil páginas e pesquisadoras espalhadas pelo Brasil revelou cerca de 52 autoras e nomes que nunca ouvimos falar. 

 

Uma pena Zaidhé não estar mais entre nós, (1939-2015) pois ela nutria grande interesse nesse nosso trabalho em favor das mulheres. Posso dizer que ter contado com seu apoio e estímulo foi como receber uma premiação. Afinal, ela foi uma pesquisadora incansável, uma crítica feminista atuante politicamente, e criou e atuou em muitos grupos de trabalho em prol do desenvolvimento da crítica literária e da história da literatura feminista no Brasil. 

 

Rubens Jardim, 75 anos, jornalista e poeta brasileiro. É autor de quatro livros de poemas. O mais recente: Antologia de Poemas Inéditos (2018). Publicou poemas em diversas antologias no Brasil e no exterior. Integrou a Catequese Poética (1964-1968), participou da 1ª Bienal Internacional de Poesia de Brasília (2008). É organizador do Sarau da Paulista e curador do Sarau Gente de Palavra. Pesquisou e divulgou em seu blog, e em sites parceiros, durante 6 anos, a série AS MULHERES POETAS. que viraram 3 livros virtuais, acessados gratuitamente na plataforma do ISSUU .Em junho deste ano a versão impressa foi publicada pela Arribaçã Editora. Disponibilizou, recentemente, o livro virtual A POESIA NOS ANOS SESSENTA, que traça um panorama dos movimentos e das vozes independentes que enriqueceram aquela controvertida década. Está na plataforma ISSUU também com acesso gratuito.

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