3.
Não é a centelha de luz que morre, é a escuridão que nasce. Desenrolo um fio cristalino para que vejas, para que sintas a presença de Ariadne na penumbra deste labirinto guardado junto ao coração. Guiar-te-á como um zéfiro de uma suavidade inequívoca. Aqui há calor, manhãs imperturbáveis esculpindo o meu seio, retendo a amplitude de um afecto renascido a cada instante. As metáforas são navios de amarras soltas, de uma brandura que só as veias conhecem nas suas vagas. O poema é feito de renda e respiração, renda de bilros, suspiros contendo lágrimas, sal de uma maré anterior. Cerzir palavras na crueza dos dias azuis, pintar costuras no avesso do silêncio. Tactear lieder no fundo de um piano fechado em agonia. Vê como azul é este pranto de uma violeta raquítica, cede passagem a este alfabeto de sombras. E nesse ritmo, tudo se amplia e renova, o corpo em ebulição, a figura de Teseu esvanecendo o labirinto, há caminhos que rompem outros caminhos. Da ruptura se fará alvorada, da luminosidade um cântaro, onde mitigar a sede que não pudemos aplacar.
Leonora Rosado nasceu a 13/02/1971, em Algueirão-Mem Martins, Sintra. Cedo revela interesse pela leitura e pela escrita, poesia sobretudo. Tem publicados vinte obras de poesia e prosa poética. São, então, as seguintes: estreia-se em edições artesanais em 2012 com a parceria de Ricardo Rosado na que viria a ser até 2016 a sua editora, Nu Limbo Edições, com o livro Dias Horizontais Noites Assim, a que se segue o livro, O Ocaso e as Horas em 2013. Em 2014 traz-nos Argila e em 2015 A Voz Subcutânea, em 2016 Ruptura. E é ainda nesse ano que publica na Temas Originais, o livro Impurezas. Em 2017, sob a chancela da Editora Licorne, apresenta-nos A Fenda No Sangue. Nesse mesmo ano surge novamente pela Editora Licorne, O Livro do Sopro. No ano seguinte, 2018 surge Trauma, pela chancela da Licorne e Fóssil de Água, pela Corpos Editora. Em 2019, a autora apresenta o seu primeiro livro de prosa poética, pela Edições Sem Nome, Há Ténues Sinais De Cristal Nos Espelhos e já no final desse mesmo ano, publica pela Editora Licorne, Pranto de Coral. Em 2020, Contágio e Álamo, pela Editora Labirinto e Editora Licorne, respectivamente. O ano 2021 trouxe-nos da sua lavra, pela Editora Labirinto, o livro de poesia, Volúpia. Em 2022, pela chancela da editora Labirinto, Vozes de Sândalo e Lâmina de Pólen. Adelaide foi publicado também em 2022 (edição de autor). Em 2023, pela Labirinto, Dor em Tempo de Frutos. Em 2024, pela Nu Limbo Edições, o livro Sede de tântalo.