Dois poemas | Beatriz Aquino
Na alegria do teu corpo
eu pouso uma aleluia.
Que não é felicidade estúpida.
Buscada em fotonovelas.
/isso não é um folhetim/
Quero do teu corpo o grito.
Mas que não é dor.
/nem medo/
É o vibrar.
Reconhecimento de que estás vivo.
Que sangras e que gozas.
Na fragilidade da tua pele
/branca, quase sem mácula/
a marca dos meus pés sem domínio.
O alvor do teu torso,
o colorido da minha pele.
O que quero é deixar um registro de que existimos.
De que me molhaste de um modo farto e definitivo.
Que minha voz fica rouca quando gozo, que teus olhos mudam de cor.
Que meu sexo estrangula o teu em desespero.
E que de nós nunca nos saciamos.
Quero dizer que nos amamos.
Deitar uma aleluia nos teus ossos e gravar neles o meu nome.
Só isso.
xxx
7 de Setembro de 2021
Carta ao Messias
O que quero te dizer é que não desisto.
Que não tenho medo.
E que estou armada até os dentes com palavras.
Que meu país agoniza, mas não morre.
Que a democracia é uma realidade que está acima de tuas mãos torpes.
Que a violência não mata a liberdade.
Só a torna mais valiosa.
E adianto; Os fantasmas de ontem, as vozes silenciadas nas covas escuras de uma ditadura que o seu governo brinca de esconder a existência, estão vivos. Todas essas vozes estão reunidas em meu peito e no peito de cada alma sã desse país. E ah meu senhor, não duvide. Elas sabem gritar…
Beatriz Aquino: atriz, escritora e entusiasta do impensável