A possibilidade de mudança: o último modelo das letras,
o culto radiológico com o estático do passado, as tretas, a liberal esperança,
somos mais sós que nós. O teu rosto frio, a tua mão fria,
do outro lado do espelho jogamos com memórias −
o controlador sustenta a morte nos ecrãs onde o pequeno barco-
de-madeira corta o tempo fixando o olhar em nós −
na nossa vida,
na nossa perda, rotinamos a ausência entre potes de água
e plantas, presas fáceis do esquecimento, até que por um momento
invisível a mão nos toque deste lado concreto em que um pouco morremos
quando quem amamos nos morre; quando numa tarde de verão
um velório nos cobre o rosto
e casamos com a nossa imitação.
Hipoderme
De noite, as paredes do metro
escondem fábricas
onde sonhos esperam
escorrendo dos seus empregos.
André Osório nasceu em Lisboa, em 1998. Tirou a licenciatura em Estudos Portugueses, na Universidade Nova de Lisboa, e encontra-se a tirar o mestrado de Teoria da Literatura na Universidade de Lisboa. Tem poesia publicada em revistas literárias como a Folhas, Letras & Outros Ofícios (Aveiro), a edição online da Porridge Magazine (Londres), a Palavra Comum (Galiza), a revista Apócrifa e a revista Lote (Lisboa), da qual é um dos directores e fundadores. Tem dois livros publicados, os dois pela Guerra & Paz.