Poesia & Conto

Dois poemas | André Osório

Foto de Ummano Dias na Unsplash

A possibilidade de mudança: o último modelo das letras,
o culto radiológico com o estático do passado, as tretas, a liberal esperança,

 

somos mais sós que nós. O teu rosto frio, a tua mão fria,
do outro lado do espelho jogamos com memórias

 

o controlador sustenta a morte nos ecrãs onde o pequeno barco-
de-madeira corta o tempo fixando o olhar em nós
na nossa vida,

 

na nossa perda, rotinamos a ausência entre potes de água
e plantas, presas fáceis do esquecimento, até que por um momento

 

invisível a mão nos toque deste lado concreto em que um pouco morremos
quando quem amamos nos morre; quando numa tarde de verão
um velório nos cobre o rosto

 

e casamos com a nossa imitação.

Hipoderme

 

De noite, as paredes do metro
escondem fábricas

 

onde sonhos esperam
escorrendo dos seus empregos.

 

fotografia de André Osório

André Osório nasceu em Lisboa, em 1998. Tirou a licenciatura em Estudos Portugueses, na Universidade Nova de Lisboa, e encontra-se a tirar o mestrado de Teoria da Literatura na Universidade de Lisboa. Tem poesia publicada em revistas literárias como a Folhas, Letras & Outros Ofícios (Aveiro), a edição online da Porridge Magazine (Londres), a Palavra Comum (Galiza), a revista Apócrifa e a revista Lote (Lisboa), da qual é um dos directores e fundadores. Tem dois livros publicados, os dois pela Guerra & Paz.

 

 

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